sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Brasília e o Jogo dos 1000 Erros


Esta semana houve a promoção de uma grande festa do basquetebol brasileiro. O NBB (Novo Basquete Brasil), competição organizada pela Liga Nacional de Basquete e que substituiu os campeonatos brasileiros de clubes outrora a cargo da Confederação Brasileira de Basketball, chegou à marca de 1000 jogos. A promoção foi bacana, com direito a vídeos em canais de mídia em locais públicos, como o metrô de São Paulo, por exemplo. O jogo não poderia ser outro se não aquele que colocava frente a frente os dois únicos campeões do certame em seus quatro anos de existência. Os times de Flamengo e Brasília com seus elencos repletos de estrelas dos basquetebol nacional foram contemplados com placas comemorativas antes da bola subir para o início da peleja. Muito bacanas e justas homenagens. Mas...

Durante o jogo a arbitragem foi confusa, o cronômetro de 24 segundos estava com defeito, o placar apagou durante e teve que ser reiniciado, as luzes do ginásio se desligaram parcialmente (fazendo um clima de “treino de segunda-feira a noite”, como disse Byra Bello durante a transmissão) e houve uma farta distribuição de faltas técnicas e desqualificantes (só no último quarto de jogo foram cobrados 39 lances livres!).

Esta equipe de arbitragem já teve dias melhores, é verdade. Houve atitudes provocadoras e certo exagero na intolerância às reclamações dos atletas. Ao que tudo indica, os árbitros foram instruídos a coibir qualquer reclamação acintosa. Concordo que o atleta brasileiro exagera nessas atitudes e que vive simulando faltas e “jurando por Deus que não encostou no adversário”, mas será que essa recomendação para a arbitragem chegou ao conhecimento das equipes? Em caso negativo, a arbitragem será meramente punitiva e levará mais tempo para modificar os hábitos dos jogadores. Mas...

Também não dá pra achar que somente os árbitros foram responsáveis pela confusão no jogo. Sei que muitos não vão concordar comigo, mas pelo que vejo, acho que o time de Brasília está “saturado de jogar junto”. O sempre eficiente trio Nezinho, Alex Garcia e Guilherme Giovannoni mostra sinais de cansaço emocional após cerca de uma década. As reclamações têm se tornado uma constante contra toda e qualquer arbitragem. Seus movimentos sempre buscam supervalorizar o contato dos adversários sugerindo marcação de falta a seu favor. E quando o árbitro considera o lance como normal, expressões verbais e corporais dramáticas são imediatamente executadas como forma de demonstrar seu descontentamento. Uma pena, pois o time é muito bom! Tão bom que é merecida e indiscutivelmente o tricampeão do NBB. Mas esse atual estilo de jogo tem tornado os jogos do Brasília chatos de se ver. E com isso se desconcentram do jogo e perdem o foco. Por duas vezes o Flamengo abriu 20 pontos de vantagem e o time candango fez a diferença baixar para 10. Nas duas vezes, suas reclamações (mesmo quando fundamentadas) deram ao rival a chance de cobrar sequências de lances livres que distanciaram as equipes no placar. Na primeira vez, inclusive, o time tinha acabado de sofrer uma falta antidesportiva, a 5ª do armador flamenguista Vitor Benite. Brasília teria dois lances livres com Arthur (o melhor em quadra) e mais a posse de bola, o que poderia deixar um saldo negativo de apenas seis pontos, reequilibrando o jogo. Mas...

Eu não entendi como ou por que (a TV não mostrou), mas o técnico do Brasília recebeu uma falta técnica e depois uma desqualificante. Ou seja, a falta antidesportiva do flamengo e a falta técnica do Brasília se anularam (em termos de penalidade), sobrando no fim das contas, dois lances livres e posse de bola para o Flamengo. Bem mais tarde, e novamente 10 pontos atrás, um ato impensado do armador Nezinho, gerou novas faltas técnicas e desqualificantes. E o Flamengo teve direito uma sequência de seis lances livres e posse de bola. Detalhe: foram tantas infrações sucessivas que a arbitragem ainda se confundiu nas contas e esqueceu de conceder outros dois arremessos ao time carioca (foram marcadas um falta pessoal, duas técnicas e uma desqualificante, total de oito lances). Some-se tudo isso às ausências dos pivôs Marcio Cipriano (lesionado) e Lucas Tischer (dispensado aparentemente por razões técnicas), que limitaram as opções táticas do treinador José Carlos Vidal.

O basquete brasiliense se tornou uma marca forte no esporte nacional e precisa continuar. Mas talvez seja interessante reformular o elenco para as próximas temporadas e evitar que alguns dos maiores atletas do basquetebol nacional tenham suas carreiras marcadas na reta final mais por reclamações do que cestas. Até por que, já vimos isso acontecer antes...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Cesta de 15 Pontos


Na terça-feira, dia 04 de dezembro de 2012, houve um jogo fantástico válido pelo quadrangular final da Liga Sulamericana de Basquetebol. Em quadra estiveram Flamengo e Peñarol (da Argentina). O time brasileiro não fez um bom primeiro tempo e chegou ficar quase 6 minutos sem pontuar no segundo quarto. O estrago daquela primeira metade de jogo foi tão grande que durante 11 min e 38 s, o placar foi 31 a 5 para os argentinos (vejam a evolução do placar ao longo da partida na figura abaixo). Com uma diferença de 26 pontos dá pra se considerar a fatura liquidada. E o Flamengo foi para o vestiário 20 pontos atrás do adversário. E aí...bom, pra encurtar a estória, o Flamengo ganhou o jogo de 79 a 78. Mas como foi isso?


Já vimos viradas espetaculares acontecerem ao redor do mundo, inclusive com a Seleção Brasileira. Já mencionamos anteriormente a final dos Jogos Panamericanos de Indianápolis (1987), em que time brasileiro foi para o intervalo de jogo também com 20 pontos atrás, e virou a partida com base nos arremessos de 3 pontos. A conquista do Pan-1987 talvez tenha gerado a característica mais marcante do estilo de jogo brasileiro, o que muitos apelidaram de “chutebol”.

No entanto, diferentemente do que o basquetebol brasileiro está acostumado, desta vez não foram as milagrosas bolas de 3 pontos que salvaram o time. Pelo contrário, o aproveitamento do time nunca foi tão inexpressivo neste sentido: nenhum acerto em 15 tentativas! Cabe comentar que o Peñarol acertou 9 de 22 tentativas, equivalendo a bons 41% de aproveitamento nos arremessos de longa distância. O que fez o time carioca vencer, então?

Penso que três fatores contribuíram para a vitória. O primeiro foi o bom controle emocional da equipe (apesar de uma ou outra falta técnica!), a começar pelo estilo de liderança do técnico José Neto, que a todo tempo dizia para que seus atletas ignorassem os erros de arbitragem e se concentrassem no jogo. O segundo aspecto foi a atitude defensiva do time que passou a atrapalhar mais os arremessos argentinos e brigar de forma mais aguerrida nos rebotes (Olivinha e Shilton juntos pegaram 10 rebotes ofensivos!). Um rebote ofensivo dá à equipe atacante uma nova oportunidade de encestar sem que a posse de bola troque de mãos. Por fim, as inteligentes opções táticas do ataque, que tiraram o peso dos chutes de 3 pontos para se concentrar num jogo mais próximo à cesta. A figura abaixo mostra os arremessos do Flamengo no 4º quarto de partida. Observem que, ao invés de buscar a famosa "cesta de 15 pontos" para diminuir a diferença rapidamente, a maioria das finalizações ocorreu em até 1,5 m de distância da cesta, enquanto apenas 3 tentativas de longa distância foram efetuadas.


Será este o novo estilo do basquetebol brasileiro?
E você, acha que vale a pena tentar jogar mais perto da cesta e arremessar menos bolas de 3 pontos?