sábado, 30 de junho de 2012

Ser Campeão Hoje ou no Futuro?


Por Luiz Eduardo M. Gois Jr

Como já foi dito no texto "Progressão Pedagógica no Basquetebol" o basquete dever ser ensinado respeitando as faixas etárias dos alunos, apresentando novos elementos a cada ano e tornando o aprendizado cumulativo. Em outro texto, “E Agora o Que Eu Faço”, comentamos que o jogador de basquetebol é obrigado a tomar decisões em curto espaço de tempo. Portanto ensinar o “por que fazer” deve fazer parte do conteúdo programático de ensino do basquete desde primeiras fases de aprendizagem e deve ser mais importante do que simplesmente ensinar o “como fazer”.

Em alguns Estados brasileiros os clubes não participam do processo de formação de atletas e equipes, cuja responsabilidade passa a ser exclusivamente das escolas. Nestas praças os campeonatos escolares têm relativamente bom espaço na mídia, o que acaba tornando-os um meio de fazer propaganda das escolas. E para isso, os resultados expressos na forma de títulos e medalhas, são os principais objetivos das escolas e consequentemente dos professores. Essa busca por este tipo de resultado nas divisões de base gera problemas que deveriam ser evitados. Essa pressão por resultados faz com que os professores queimem etapas e às vezes utilizem abordagens metodológicas que não são adequadas para determinadas etapas de ensino da modalidade.

E quais são as metodologias usadas no ensino dos esportes? Existem duas principais, a metodologia tradicional, que é aquela que se preocupa com o ensino dos fundamentos fora do contexto do jogo, ou seja, apenas pela repetição do gesto. Exemplo, o ensino do passe utilizando duas colunas uma de frente para o outro passando a bola, excluindo um dos elementos principais da modalidade que é a oposição, o que vai acabar omitindo também as tomadas de decisão, as percepções das diferentes situações, etc.

Nessa metodologia é ensinado ao aluno apenas o “como fazer” e deixando de lado o entendimento do jogo, o “por que fazer”. Que pode ser ensinado utilizando a metodologia situacional, que tem como característica principal a utilização de situações de jogo. Exemplo, jogos de 1x1, 2x2, 3x3, nesse caso não existe a exclusão da oposição, além disso, vai estimular a capacidade de percepção e de tomar decisões dos jogadores. Fazendo uma analogia ao cotidiano, na metodologia tradicional o professor leva o aluno para um restaurante e determina qual o prato que ele tem que comer, já a situacional o professor mostra o cardápio para o aluno escolher o melhor prato. Ele pode até escolher errado e não vai gostar do prato, mas na próxima vez ele saberá que aquela opção não é a melhor e vai saber por que escolher um prato diferente.

O que acontece quando o principal objetivo do professor é ser campeão e não formar jogadores eles acabam utilizando apenas a metodologia tradicional, principalmente porque o resultado acontece mais rapidamente. Quando o professor está preocupado em formar um jogador ele utiliza as situações de jogo, trabalhando o entendimento da modalidade com seus alunos. A “desvantagem” desse método é o que o resultado só vem a longo prazo, o processo nessa metodologia é mais demorado e muitos professores não tem paciência para utilizá-lo.

Portanto, nas etapas de formação de atletas, é importante que os professores tenham uma visão a longo prazo e pensem na formação do jogador para que ele possa ser campeão no futuro e não apenas campeão mirim dos jogos escolares do ano corrente. E para isso dê ao aluno um cardápio para ele escolher o prato e não diga apenas o prato que ele deve comer.

O Dirigente Esportivo no Esporte de Base


Li num site de rede social esta semana uma denúncia/reclamação de uma pessoa que relatava ter seus atletas de categorias de base (e seus pais!) sendo assediados por um diretor de outro clube. No relato, havia promessas de ganhar camisas do clube e outras formas de brindes numa tentativa de seduzir os jovens atletas (todos menores de idade) e seus pais para se transferir para o novo clube.

Os comentários publicados logo abaixo do relato mostraram clara indignação dos leitores em relação ao gesto atribuído ao diretor. Infelizmente, esta é uma prática antiga, que pelo visto, ainda não entrou em desuso. Já escrevemos um texto recente acerca da formação e da atuação do dirigente esportivo, mas é certo que o assunto não se esgotou. Há uma premissa básica na formação de atletas que postula que “da quantidade extraímos a qualidade”. Assim, precisamos da massificação da prática esportiva para que possamos identificar e selecionar os talentos esportivos. Qual o passo seguinte?

Existem muitos professores e treinadores da base que, apesar de condições precárias e de baixos salários, executam trabalhos condizentes com sua paixão pelo basquetebol. Em clubes de baixo investimento estes treinadores chegam a trabalhar de graça. Depois de meses ou anos de dedicação, quando finalmente conseguem obter uma geração de atletas promissores, podendo fazer com que o clube de baixo investimento tenha chances de jogar quase em igualdade de condições com os clubes de alto investimento, surgem os convites destes últimos, desmontando time original. O resultado dessa iniciativa é o fim das atividades daqueles clubes.

Há uma decisão a ser tomada que parece simples, mas de fato não é. O que fazer com estes atletas iniciantes: deixá-los no clube original ou transferi-los para um clube maior? Vamos aos argumentos de cada lado. Deixar no clube original permite a continuidade do trabalho da instituição e visa à possibilidade de se descobrir outros talentos da modalidade, em função de haver mais um espaço disponível para a prática. Isso também tende a diminuir a diferença da qualidade de jogo entre os clubes de diferentes níveis de investimento. Por outro lado, há quem defenda a ideia de que o atleta pode vir a se desenvolver de forma mais consolidada se inserido numa estrutura mais abrangente. Neste contexto, os dois lados têm razão. Mas quem deve tomar a decisão?

Em nossa opinião, esta deveria ser uma decisão pautada no debate entre treinadores e não diretores. Vi diretores de categorias de base atuarem no sentido de enfraquecer seus rivais, sem se preocupar com o desenvolvimento do esporte. Em outras épocas, havia times sub-13 ou sub-15 no Rio de Janeiro que detinham todos os armadores de boa qualidade do Estado, não deixando nenhum para os adversários. O problema é que não há vaga para todos jogarem num mesmo time. Assim, o tal desenvolvimento a partir de uma estrutura melhor não acontecia, pois o atleta nem entrava em quadra. Melhor seria obter a experiência de jogo enfrentando as adversidades do próprio jogo na prática, mesmo num clube menos estruturado.

A responsabilidade do diretor de categorias de base não pode ser apenas com os títulos e medalhas de próprio clube, mas deve focar metas de desenvolvimento do esporte como um todo. Se não há adversários de qualidade, não há meios de fazer seu time melhorar. Este é um dos mais básicos princípios do treinamento desportivo: sobrecarga e adaptação. Seu time precisa enfrentar adversários de mesmo nível de jogo ou algo melhor (sobrecarga) para que possa melhorar suas habilidades atléticas, físicas, técnico-táticas, psicológicas e cognitivas (adaptação). Volto a insistir, o dirigente esportivo não pode ser simplesmente um ex-atleta ou pai apaixonado pelo esporte. Tem que ter formação específica para exercer ética e eficientemente sua função.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Uma Breve Análise do Draft 2012


O Draft, processo de seleção de novos atletas para integrar as equipes da NBA, este ano seguiu a mesma tendência das finais da última temporada, na qual Miami Heat e Oklahoma City Thuder jogaram sem armador especialista e com pivô limitado a um segundo plano. Os jogos foram concentrados nos jogadores das posições 2, 3 e 4 em ambas as equipes. O draft também. Dos 60 jogadores selecionados, apenas 6 (10%) são armadores, ao passo que 20 jogam como ala/pivô. A tabela abaixo mostra o número de atletas selecionados por posição em cada rodada e no total.

Posição
1ª Rodada
2ª Rodada
Total (%)
Armador
5
1
6 (10)
Escolta
5
7
12 (20)
Ala
5
7
12 (20)
Ala/Pivô
8
12
20 (33)
Pivô
7
3
10 (17)

Os comentaristas dos EUA relatavam previamente que havia poucas opções de armadores entre os inscritos no processo. Mesmo assim, alguns armadores ficaram de fora das escolhas. Comentei anteriormente que este pode ser um novo tempo, um novo estilo de formação de equipes em quadra, aumentando o poder ofensivo por atuar com jogadores que têm postura mais agressiva em relação à cesta, e aumentando também a mobilidade defensiva (rotações mais eficientes) e a velocidade nos contrataques. A diferença de estatura entre os pivôs e os alas de força não é tão grande, mas a agilidade e a velocidade de curta distância são consideravelmente menores nos pivôs. Isso pode limitar as discrepâncias nas trocas de marcação (mismatches) e favorecer a defesa.

Outro aspecto interessante foi a manutenção das portas abertas aos estrangeiros na NBA. Dos 60 selecionados, 12 (20%) são nascidos em outras países, sendo o mais privilegiado a Turquia, com três atletas. Fora da Europa, apenas um brasileiro, um nigeriano e um canadense. Em solo americano, as Universidades de Kentucky (6 atletas), Carolina do Norte (4 atletas), Syracuse (3 atletas), Vanderbilt (3 atletas) e Baylor (3 atletas) foram as que mais tiveram ex-alunos draftados para a NBA.

As preocupações de cada time na NBA são diferentes e dependem do planejamento de cada organização. Algumas equipes precisavam se reforçar imediatamente, enquanto outras já começaram a pensar na futura renovação de seus elencos, para quando suas estrelas experientes se aposentarem ou atingirem o final do contrato tornando-se agentes livres. Toda escolha é uma aposta, e só o tempo dirá se valeu a pena ou não.

O Dirigente Esportivo no Brasil


Esta semana no programa “Bem, Amigos” do canal Sportv, houve um debate bastante interessante acerca da administração do esporte no Brasil, com as presenças dos técnicos de futebol Levir Culpi e Dorival Jr, além das presenças do staff da casa, Junior, Alberto Helena Jr, Caio Ribeiro, Bob Faria, Arnaldo Cesar Coelho e Luiz Roberto. As opiniões apresentadas foram coerentes e possivelmente expressaram os pensamentos de muitos esportistas entre nós, independentemente de modalidade esportiva.

De cara, o que mais me assusta é a irresponsabilidade de vários dos dirigentes, cujas atitudes mostram uma preocupação mais voltada para si próprio do que para o bem do clube. Dívidas ignoradas (falta pouco para alguns dos grandes clubes brasileiros atingirem a marca de meio bilhão de reais de dívida), controle de gastos ausente, contratações sem sentido (a não ser atender a empresários), entre outras coisas. O basquete nacional não se encontra no mesmo patamar de investimentos e visibilidade do futebol, por isso esse tipo de situação não é tão comum na mídia. Mas, até quando estaremos de fora deste tipo de noticiário?

O esporte de alto rendimento precisa ser gerido empresarialmente. Por isso não há mais lugar para dirigentes sem algum tipo de formação básica. Contar apenas com a boa vontade dos abnegados não pode ser a saída para o desenvolvimento esportivo no país. A falta de conhecimento acerca de planejamento estratégico é uma barreira ao crescimento da modalidade. Precisamos de dirigentes que sejam ousados e criativos, porém responsáveis e responsabilizados por seus atos.

Além disso, deve haver algum grau de conhecimento ou assessoria específica sobre como funciona um programa de treinamento a longo prazo. Caso contrário, erros graves serão (e são) cometidos. Tempos atrás, quando eu era técnico da categoria sub-12 (pré-mirim) no Rio de Janeiro, por exemplo, estive numa reunião na Federação de lá para tratar de como seria o primeiro torneio da faixa etária naquele ano. Era março ou abril, e o diretor da federação queria iniciar a disputa já naquele mês. Antes da reunião, os técnicos presentes conversavam sobre suas equipes, e com exceção de duas, todas as demais (umas cinco ou seis) não estavam preparadas para jogar. Como essa era a categoria mais jovem entre todas, vários atletas haviam ingressado pouco tempo antes na escolinha do clube para aprender os mais básicos fundamentos do jogo.

Quando começou a reunião, pedi a palavra e sugeri que o torneio fosse adiado para o 2º semestre, dando tempo para que aqueles neoatletas pudessem aprender o suficiente para disputar uma partida oficial. Aqueles times que se julgassem prontos marcariam amistosos como jogo preliminar do campeonato adulto. Todos os treinadores concordaram. Mas o diretor da entidade disse: “É, só que agora ficou muito em cima. Vamos fazer esse torneio agora e depois a gente pensa nisso.”

Sejamos francos, quem gosta de competição, gosta de ganhar. Assim, todas as equipes queimaram etapas na formação dos atletas em busca da possibilidade de vitórias. Alguns times eram ainda muito iniciantes, e suas derrotas chegaram a ultrapassar os 100 pontos de diferença no placar. A maioria dos jovens atletas derrotados perversa e continuamente abandonaram o esporte ao final daquele torneio. Os próprios clubes limitaram seus investimentos, visto que apenas as vitórias e os títulos interessavam.

Não é proibido ser campeão, mas o verdadeiro papel do treinador da base é participar e dar continuidade ao processo de formação de atletas no longo prazo. Observe que não mencionei que o papel é formar atletas e sim dar continuidade ao processo, de modo a evitar a falsa impressão de que já aos 13 anos de idade o atleta precisa saber de tudo da modalidade, todas as regras, todos os sistemas de jogo, todas as plataformas de defesa, todos os fundamentos, enfim, todas as situações de jogo. Precisa haver um planejamento no qual seja estabelecido o que cada faixa etária deve aprender ao longo do ano, tornando o aprendizado gradativo e cumulativo.  

Se o dirigente não entender isso e se o treinador da base achar que seu emprego depende de troféus e medalhas, o país nunca será um eficiente formador de atletas, e ficaremos a mercê da natural evolução dos nossos talentos, ou ainda da importação de estrangeiros para compor nossa seleção nacional.

sábado, 23 de junho de 2012

Quem Ganha o Jogo: o técnico ou o jogador?


É claro que essa pergunta não tem uma resposta clara e objetiva, mas faz a gente pensar sobre a atuação dos técnicos durante a preparação da equipe para o jogo, e durante o jogo em si. Interpreto estes dois momentos de forma diferente, compreendendo que o treinador tem a responsabilidade de preparar o time ao longo da semana, enquanto o técnico assume prioritariamente a responsabilidade durante a partida. No Brasil, ambas as funções normalmente são exercidas pela mesma pessoa.

Este ano, os jogos dos play-offs da NBA mostraram algo interessante para se debater acerca do papel dos técnicos no desempenho das equipes. Falo em especial do técnico do Miami Heat, Erik Spoelstra, campeão da atual temporada. Ao longo de seu trabalho, aliás, desde o início, muitas dúvidas pairaram no ar acerca do comando do jovem ex-assistente técnico que foi convidado a assumir a função de treinador principal. Os administradores da franquia da Flórida montaram um time com o intuito de se criar uma nova dinastia na Liga. A chegada de LeBron James e Chris Bosh deu ao time um padrão diferenciado, sendo apontado como um dos mais fortes candidatos ao título. O título não veio em seu primeiro ano, e logo a pressão sobre o treinador ganhou força. O início ineficiente fez para muitos críticos, o treinador balançar no cargo, mas a diretoria, principalmente aquele que o colocou na função, o presidente da corporação, Pat Rilley, manteve as coisas como estavam, pois pareciam acreditar em Spoelstra. Mas, o que somente Pat Rilley viu, que ninguém mais percebeu?

Penso que o grande problema ao se criticar é que a ignorância é a mãe do pensamento livre, ou seja, quando você não conhece todos os fatores associados a uma situação qualquer sua versão dos fatos fica repleta de lacunas, e a tendência é completarmos a estória a nosso próprio gosto. Quem aqui acompanhou o dia-dia dos treinos em Miami para saber como era o convívio dos atletas com o treinador? Afirmar que Spoelstra não tem carisma e, portanto, não tem comando sobre o grupo é um tiro longo e quase leviano.

Em minha opinião, Spoelstra paga o preço por ser jovem e de estilo low profile. É importante não ignorar os diferentes estilos de liderança de grupos. Já comentei aqui em outra oportunidade que o treinador deve ser um catalisador de performance, buscando os meios e métodos para que seus atletas alcancem o mais alto nível de rendimento individual e coletivo. Estamos (mal) acostumados com os técnicos “besta fera” em nossas quadras, campos e etc. Devemos entender que para muitos atletas, falar é suficiente, gritar é over. Se a mensagem foi enviada e assimilada através de uma conversa num tom de voz normal, não há a necessidade de se quebrar a prancheta e vociferar perante o grupo. Já vi técnicos dando bronca no time e olhando para a arquibancada atrás do banco de reservas, dando atenção a “sua plateia”. E no final, se perdem o jogo, a culpa é daquele jogador que errou o último arremesso ou daquele outro que não fechou o rebote. Talvez ainda sobre para os árbitros, mas nunca, nunca a derrota é de responsabilidade do técnico. Por outro lado, a cada vitória há a celebração de uma conquista gerada pela perfeita orientação da equipe, dando um “nó tático” no adversário. Será mesmo?

Pra quem não sabe, Spoeltra foi o responsável por criar e implantar o atual sistema de análise de performance utilizado pelo Miami Heat, ou seja, é um especialista em estratégia. Observe as mudanças marcantes na forma de jogar do time ao longo dos play-offs. Os ajustes eram feitos para cada adversário, limitando as ações ofensivas de acordo com a identificação dos pontos fortes dos times, em especial, ao se observar a dificuldade do Celtics para infiltrar no garrafão do Heat nos jogos 6 e 7 da final da Conferência Leste, e depois, nos jogos contra o Oklahoma City Thunder. A defesa, que já era considerada uma das melhores da Liga, ficou ainda mais aguerrida nas finais. O ataque, apesar da forte individualidade do trio James-Wade-Bosh, passou a adotar medidas alternativas, explorando o jogo interno de LeBron (ao invés dos chutes do perímetro) e sua distribuição de bola nas dobras de marcação, aliados aos confiantes arremessos de três pontos de Mario Chalmers, Shane Battier e Mike Miller. O Miami Heat mudou, amadureceu e virou um time. Precisou de 16 vitórias na pós-temporada para mostrar isso. E eu, particularmente, não acredito que estas mudanças não tenham passado pelas mãos de Erik Spoelstra. Ele entende do assunto.  Pode demorar, mas vai mudar a opinião de muita gente. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Nosso Solo Sagrado


Tempos atrás, quando eu iniciava minha carreira como treinador, ainda um estagiário, atuando como assistente técnico das categorias de base, me deparei com uma situação um tanto quanto peculiar. Eu trabalhava no Tijuca T.C. do Rio de Janeiro, clube que não tem em suas dependências uma única quadra de futsal (há apenas dois campos de futebol society para torneios internos ou atividades recreativas dos associados). Sendo assim, o Tijuca não tem equipes de futebol ou futsal disputando campeonatos oficiais. Nosso time de basquete sub-13 foi jogar uma partida como visitante contra o C.R. Vasco da Gama. Um dos nossos atletas era de família portuguesa, todos vascaínos no sangue. Eis que ao sair do vestiário para a quadra, este atleta aparece vestindo a camisa do vasco por baixo do uniforme do Tijuca. Aquilo me incomodou bastante apesar do técnico não ter se manifestado na ocasião, e a partir daquele momento decidi que isso precisava mudar.

Quando assumi a direção técnica das equipes sub-12 e sub-13 do clube, determinei junto aos atletas que dali em diante eles não mais torceriam para Flamengo, Vasco, Botafogo ou Fluminense depois de ultrapassarem o portão de entrada do ginásio. Assim, o uso de nenhum short, camisa, meia ou qualquer outro aparato de vestimenta seria permitido nos nossos treinos. Depois de um tempo, os atletas passaram a mostrar maior identificação com o clube, e até mesmo um certo sentimento de orgulho foi percebido. Penso que entre os primeiros aspectos a serem ensinados aos atletas iniciantes deve constar o respeito pela instituição. Esse comprometimento foi inspirador em vários outros momentos de cada jogador ao longo dos anos seguintes.

Outra coisa a se respeitar é a quadra. Nosso campo de jogo deve ser conservado por cada um de nós que utilizamos este espaço. Enquanto fui o responsável por aqueles atletas, nenhum deles entrava na quadra descalço ou de chinelos, somente de tênis apropriado para o jogo. Eu mesmo quando calçava sapato nos dias de jogo não entrava na quadra de forma alguma. Precisava também dar o exemplo, e os atletas, apesar de bastante jovens ainda, notavam isso.

Sinto pena de ver como estes hábitos parecem ser tão distantes da realidade de hoje em dia. É como um sentimento de profanação do nosso solo sagrado. 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Basquete Brasileiro: crise ou crítica?


Hoje terminou o Campeonato Fiba Américas U18 masculino. A competição, realizada em solo brasileiro, na cidade de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, reuniu a nata do basquetebol das Américas que certamente estarão na mídia nos próximos anos, quem sabe até, de volta a nosso país, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. Além do sempre favorito time dos EUA, os olhos dos espectadores e da mídia focaram o elenco argentino, países com programas de desenvolvimento do basquetebol muito mais avançado do que o Brasil.

Tudo isso escrito acima é verdade. A preocupação com a participação brasileira é uma constante entre os cronistas e blogueiros tupiniquins. Mais uma vez, muita desconfiança, e uma torcida meio discreta, quase precisando que as coisas dêem errado para terem o que criticar impiedosamente sobre nosso esporte. Espero que este texto até aqui não os tenha levado a uma interpretação equivocada a meu respeito, fazendo-os pensar que eu acho que está tudo bem com o basquete nacional, que nossos times são os melhores, que nossa organização e administração esportiva é exemplar. Não vamos nos iludir, nem eu e nem vocês. Mas convenhamos, parte da crise do basquete brasileiro é proveniente de um exagero, transformado em uma espécie de histeria coletiva dos críticos.

A primeira coisa é a matemática imprecisa. É muito cruel (já disse isso aqui antes...) esse discurso sofista de que o Brasil está há 16 anos sem participar dos Jogos Olímpicos, uma competição que só ocorre de 4 em 4 anos. Se formos levar isso ao pé da letra, a atual campeã Espanha já se encontra afastada das quadras olímpicas oficialmente há 4 anos! Nem os EUA, atuais campeões mundiais escaparam deste mesmo período de ostracismo. Deixemos então de mencionar 16 anos, e sim, comentar (e lamentar) que ficamos três edições olímpicas de fora.

A outra coisa é o tratamento diferenciado que a crítica dá aos fatos ocorridos com nossos times em relação aos demais. Por exemplo, Ruben Magnano não gosta de câmeras e microfones em seus pedidos de tempo, e acham isso um absurdo. Na NBA mostram única e simplesmente os discursos motivacionais, mas nunca a parte tática. Mas ninguém reclama. Disseram que a final do NBB foi um jogo de baixíssimo nível técnico que demonstrou a fragilidade do basquete nacional. Será que estes não assistiram a final da Euroliga? O jogo só ficou bom de verdade quando faltavam cerca de 5 min para o fim. Até lá, foi uma tremenda pelada, em especial o primeiro período. Será que isso demonstra a fragilidade do basquetebol russo e também do grego?

 Reclamam que o basquete brasileiro desde o final os anos 1980 passou a se basear nos arremessos de três pontos, sem preocupação com variações táticas ofensivas. Não sei o que vocês vêm, mas será que não é exatamente isso que acontece nas arenas do Miami Heat e do Oklahoma City Thunder nas finais da NBA? No final do jogo de ontem (jogo 4), o ex-técnico e atual comentarista dos canais ESPN Zé Boquinha foi muito feliz em dizer que Russel Westbrook é um armador de pelada. A quantidade de erros básicos cometidos por ambas as equipes, comandadas por dois técnicos que nunca receberam o reconhecimento por seus trabalhos, e a total falta de estrutura tática ofensiva (principal característica tanto do time do leste como do oeste), nunca receberam as críticas dos amantes do esporte. Os arremessos precipitados de longa distância ao chegar num contrataque sem rebote, ou logo após a recuperação de um rebote ofensivo foram presenças marcantes no repertório dos times.

Quanto ao nosso estilo de jogo baseado exacerbadamente nos arremessos de longa distância, vocês ficariam chocados em saber que a média de arremessos de três do NBB, da Euroliga, da Liga Endesa (ACB Espanhola) e da Lega Nacional (Liga Italiana) são rigorosamente iguais? Em todos os campeonatos, as equipes tentam sempre cerca de 20 arremessos de três pontos por partida (em breve nossa equipe vai comentar mais sobre isso). Será então que nosso estilo de jogo é ainda tão diferente dos europeus?

Quanto ao processo de renovação, penso que estamos no início de um trabalho que só vai colher frutos bem mais tarde, provavelmente quando outro grupo estiver à frente da administração da modalidade. Estamos ainda preparando o terreno e começando a plantar as sementes. Devemos ter mais parcimônia e melhores critérios para poder avaliar e criticar o estado atual do basquete brasileiro, mas sempre numa perspectiva de crescimento em curso.

Pra finalizar, vejam só estes dados: a Argentina U18 perdeu duas vezes para o Canadá e perdeu de lavada para os EUA nas semifinais. Acabou o torneio em quarto lugar. Imaginem se fosse o Brasil...o que estariam comentando por aí?

PS: Após um terceiro quarto muito ruim, o Brasil perdeu a final do U18 para os EUA. Placar final: EUA 81 x 56 Brasil.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Hoje é Dia do Árbitro de Basquetebol


Hoje no twitter circulou uma notícia interessante, mas não confirmada até o momento. Ao que tudo indica, hoje, dia 19 de junho, é o dia do árbitro de basquetebol. Não sei se é verdade, mas mesmo assim, presto aqui minha homenagem a estes personagens do esporte. Sem os árbitros, não há esporte de alto rendimento. Bater uma pelada sem compromisso, é até possível, mas um campeonato de verdade precisa da equipe de arbitragem.

A arbitragem de basquetebol é, ao meu ver, uma das mais difíceis entre todas as modalidades olímpicas. A evolução das regras, dos jogadores e do próprio estilo de jogo obrigou a equipe de arbitragem a aumentar de dois para três integrantes em quadra. Hoje, os atletas são maiores, mais fortes e mais rápidos que há 20 ou 40 anos. Além disso, a disputa pelo espaço tornou o jogo recheado de contato físico.

A introdução da linha de arremesso de 3 pontos fez o campo real de jogo se expandir um pouco, mas mais recentemente, o aumento do tamanho da área restritiva (garrafão), encurtou os espaços novamente. É difícil ver tudo o que acontece no jogo, mas isso não é aceito como desculpa para erros dos árbitros.

Penso que um time só deveria reclamar dos erros de arbitragem se fizer uma partida perfeita, sem erros de passe, de arremesso, de postura ou movimentação defensiva. É muito mais conveniente fechar os olhos para nossas próprias falhas e transferir a culpa pela derrota para aqueles indivíduos “que não podem errar”.

E quem nunca errou que atire a primeira pedra...

Parabéns árbitros! E obrigado!

Está Faltando Armador!


Hoje a noite teremos o jogo 4 das finais da NBA 2011/2012, em que o Miami Heat receberá o Oklahoma City Thunder. Creio que pela primeira vez na história os times finalistas adotam uma estrutura pouco usual no esporte. Em seus times titulares nenhuma das equipes possui armador de ofício. Russel Westbrook (Thunder) e Mario Chalmers (Heat) fazem a função de forma improvisada, mas sem a eficiência esperada de um organizador do ataque. No banco de reservas dos dois lados, há uma opção para a posição. Enquanto o Thunder conta com a ampla experiência do veteraníssimo Derek Fisher, o time do Heat joga o peso da responsabilidade nas costas do calouro Norris Cole. Se falta condição física para um, falta bagagem para o outro. E ambos têm baixa estatura para os padrões da NBA (Fisher 1,83 m e Cole 1,85 m). Além disso, em vários momentos do jogo têm tido a obrigação de marcar jogadores bem mais altos, como Dwyane Wade (1,93 m) e Kevin Durant (2,06 m). Não sei exatamente as razões pelas quais os técnicos decidiram montar seus elencos com estas características, mas este fato levanta a questão: será esta uma tendência para os próximos anos? Será que a função do armador será banida do jogo?

Acho que da forma como o jogo na NBA tem sido conduzido, é bastante possível que esta seja realmente uma direção a ser tomada pelas equipes (não estou defendo esta posição, apenas interpretando a situação!). Esta semana tive a oportunidade de assistir alguns jogos antigos, que em breve serão tema de textos do É Cesta! Estes jogos podem ser considerados clássicos do basquete, como a final olímpica de Munique em 1972 entre EUA e URSS. O jogo era absolutamente coletivo, com uma constante movimentação dos jogadores e troca de passes até que fosse possível arremessar a bola em curta ou média distância com o mínimo de marcação adversária. O jogo da NBA hoje se resume a duas situações no ataque posicionado: o isolamento e o pick and roll. Assim, o jogo não precisa mais ser “coletivo”. Pelo contrário, quando se aplica o isolamento, a função dos demais jogadores é efetivamente não atrapalhar, e sair do caminho, liberando espaço na quadra para que o atacante com bola jogue sozinho. No máximo, busca-se um bloqueio (corta-luz) com giro para as situações em que se busca forçar a troca de marcação. A outra opção são os arremessos de 3 pontos, mesmo que seja num contrataque sem rebote ofensivo a ser disputado.

A verdade é que este estilo de jogo dispensa o armador da quadra. Uma pena, pois penso que desta forma o jogo fica menos intuitivo e mais óbvio. As habilidades atléticas parecem superar as habilidades cognitivas e a síntese de raciocínio dos atletas. A própria participação do técnico nas tomadas de decisão ofensivas ficam limitadas. Acho o espetáculo das enterradas e infiltrações com mudanças de direção fantástico, mas não me iludo. Não gosto deste estilo de jogo baseado pura e simplesmente no 1 x 1.  A NBA atual me lembra um exercício que muitos professores e treinadores (eu inclusive) costumam utilizar, no qual os componentes de cada equipe recebem uma numeração e ficam sentados ao longo da linha lateral de quadra. Cada número de uma equipe tem seu correspondente na outra equipe. O professor lança a bola para o alto no centro da quadra e chama um número. Então, os jogadores de cada equipe que tenham este número correm para disputar a bola e jogar 1 x 1, até que saia uma cesta. A NBA de hoje não está muito distante disso.

Tomara que a NBA das próximas temporadas não nos prive de ver em ação jogadores como Rajon Rondo, Tony Parker, Chris Paul, Jason Kidd, Monta Ellis, Steve Nash, Derrick Rose, Ricky Rubio, John Wall, Kemba Walker, entre muitos, muitos outros, que desafiam cognitivamente os adversários e organizam as ações ofensivas de seus times. O jogo nasceu coletivo. Que seja mantido coletivo!

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Como Medir a Qualidade de um Técnico?


Já escrevi por aqui que o técnico (ou treinador esportivo) deve ser um catalisador de performance, buscando meios e métodos para que seus atletas alcancem o máximo do rendimento individual e coletivo. A função do treinador é dotada de um elevado grau de complexidade, embora nem sempre seja percebido. Se você não compreende esta situação por este ângulo, passa a crer que o papel do técnico é simplesmente definir uma plataforma tática (que tipo de defesa, por exemplo) e “não atrapalhar” o rendimento do time. E isso está longe de ser verdade.

O treinador idealmente deve participar da montagem do elenco (da mesma forma em que um diretor de teatro faz antes de um espetáculo), selecionando os atletas que formarão a equipe para aquela temporada. Este processo de seleção passa pela compreensão de que as “peças do quebra-cabeça” precisam fazer sentido quando estiverem juntas. Nem sempre, o simples fato de agrupar grandes talentos ao mesmo tempo cria um grande time.

Ao longo da temporada, o treinador precisa gerenciar as diferentes personalidades presentes no grupo, precisa saber motivar os reservas, precisa saber corrigir e aperfeiçoar os jogadores, e até mais importante que isso, saber como ter acesso à correção destes jogadores. Não se iluda, pois até mesmo estrelas da NBA apresentam falhas graves de fundamentos. Porém, um treinador atento e capacitado, consegue convencer este atleta da necessidade de melhora.

Então, que indicadores devem ser aplicados para definir a qualidade de um técnico? Será que os títulos e demais conquistas ou o percentual de vitórias ao longo da carreira? Será o carisma? Eric Spoelstra do Miami Heat é bastante criticado por não ser carismático. Mas o time da Flórida tem apresentado a cada jogo destes play-offs um sistema defensivo mais e mais consistente e variado, ajustando-se ao estilo ofensivo de seus adversários (foi assim contra Boston Celtics e agora contra Oklahoma City Thunder). E apesar da habilidade em resolução de problemas, nem assim o consideram um bom técnico.

Existem críticos que ainda insistem em dizer que “há times cujos jogadores não precisam de técnico, jogam sozinhos”. Podem ganhar alguns jogos, mas não ganham campeonatos. Tem muito mais saberes necessários a um treinador que a mera escolha da defesa ou das jogadas ensaiadas no comando de um equipe. E os treinadores que não entenderem isso estarão dando razão aos críticos. 

sábado, 16 de junho de 2012

Expansão do NBB para o Nordeste


Fortes rumores apontam para a criação de uma nova equipe para disputar o NBB 5 fora do eixo Sul-Sudeste, de onde vêm a maioria dos clubes. É um time da capital cearense, Fortaleza. Como nenhum clube específico ou patrocinador foi anunciado até o momento, continuaremos a chamá-lo simplesmente de Fortaleza. Gosto muito dessa ideia. Moro no nordeste há quase 6 anos e vi como o basquetebol daqui tem potencial, mas falta gerenciamento e investimento. Há treinadores abnegados, mas que nem sempre recebem eco de suas ações daqueles que detém o controle administrativo e financeiro do esporte ou do Estado.

Penso que a entrada deste novo time pode dar luz a uma enorme seara de jogadores que não tiveram até então oportunidade de aparecer para um público além dos amigos e família. Portanto, espero que a formação deste time possa mesclar jogadores consagrados, como o ventilado interesse em Manteiguinha e Rogério Klafke, com jogadores da região nordeste. Temos muitos jogadores de qualidade aqui em cima, mas faltam estrutura e visibilidade.

Alberto Bial tem aparecido como provável técnico do time. Experiente, conhecedor do esporte, mas principalmente, carismático, atributo indispensável para este início de projeto. Contudo, assim como com os atletas, penso que a comissão técnica também deve dar oportunidade para os profissionais de lá participarem. Em nossa opinião, este seria uma forma de legado esportivo, não só para a cidade de Fortaleza, mas também para a região nordeste como um todo.

Na região, existe há alguns anos a Liga Nordeste de Basquetebol, que no ano de 2011 organizou a 4ª Supercopa Nordeste de Basquetebol agregando um pouco mais de 140 equipes jogando simultaneamente nos nove Estados da região. Certamente, atletas e treinadores de qualidade se apresentaram por lá. Falta agora garimpar as informações e descobrir novos talentos para o basquete nacional. O fato é que não há razão para se abrir uma franquia do NBB em Fortaleza se não forem utilizados atletas da região.

Espero que tudo dê certo, e que a praia de Iracema seja o novo point da Liga Nacional de Basquete.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Arbitragem Brasileira: formação e progressão profissional


Não existe padronização nos cursos de formação de profissionais de arbitragem no basquete. Os cursos podem ter duração de um fim de semana até três meses, dependendo da Federação que o organize. Penso que os cursos de curta duração tendem a simplesmente fazer com que atletas migrem para a função da arbitragem. Convenhamos, não é possível formar um novo árbitro que não tenha sido jogador em apenas um fim de semana. Essa estratégia, embora encurte caminhos, faz, paralelamente, com que o universo de pessoas envolvidas na modalidade fique reduzido.

Para que o árbitro aprimore seu desempenho é preciso ter a oportunidade de trabalhar muito (ou seja, apitar muitos jogos) e vivenciar o máximo possível de situações sobre as quais precisam tomar decisões rápidas. Jogos muito desequilibrados (mais de 25 pontos de diferença no placar) tendem a fazer com que a atenção e concentração do árbitro fiquem diminuídas. Assim, os erros de arbitragem tornam-se mais comuns, porém sem prejuízo no resultado final da partida. Desta forma, parece que a responsabilidade do árbitro também diminui. O que não é verdade.

Outra questão diz respeito à progressão profissional do árbitro, pois também não existe um padrão para isso. Lembro-me que nos anos 1990 no Rio de Janeiro, após terminar o curso, o aluno virava estagiário e precisava apitar cerca de 20 jogos neste período. Após o estágio, tornava-se árbitro regional de 3ª categoria. Tempos depois, podia solicitar a progressão para 2ª categoria, e finalmente a 1ª categoria regional. Finalizado este longo período, o árbitro poderia então fazer prova para a categoria nacional, o que abriria possibilidades para participar de campeonatos além do âmbito estadual. Ou seja, a quantidade de jogos apitados e o tempo na profissão eram fatores expressivos para sua progressão.

Alguns árbitros, porém encurtam caminho. A depender da Federação, é possível que um ano após o curso o árbitro já atinja a categoria nacional. Temo por essa aceleração da progressão, pois a falta de experiência do árbitro até atingir este nível pode trazer prejuízos nos futuro. Nos Estados em que os jogos equilibrados são uma raridade, podemos questionar em que condições estes árbitros estão se preparando para campeonatos mais abrangentes.

Um outro aspecto que merece atenção é a motivação para seguir na carreira. A maioria dos árbitros internacionais cadastrados na CBB atualmente é das regiões sul e sudeste. Portanto, parece que a chance de um árbitro de Sergipe, Rondônia, Tocantins ou Mato Grosso do Sul, por exemplo, alcançar o nível internacional é relativamente pequena. Por isso, a progressão nestes e em outros Estados deveria ser mais lenta, evitando que os árbitros chegassem ao topo da carreira precocemente. Somos motivados pela possibilidade de crescer, mas se fica estabelecida esta inviabilidade, a tendência à estagnação pode fazer emergir a síndrome de burn out no árbitro e seu rendimento ficará comprometido.

O basquete brasileiro precisa cuidar de seus árbitros!

quarta-feira, 13 de junho de 2012

NBB 5: hora de mostrar responsabilidade


O NBB 4 acabou e agora os clubes começam a se preparar para a próxima temporada. Mais do que nunca, é preciso ter cuidado. Este é um momento delicado para a continuidade do sucesso do basquete brasileiro. O caminho do crescimento do esporte no Brasil passa pelo equilíbrio de forças na competição. Taí algo que deveríamos efetivamente “copiar” da NBA. Há uma constante preocupação dos administradores da Liga no tocante à manutenção de certo equilíbrio competitivo entre as equipes. O sorteio para escolha de novos jogadores (draft) busca viabilizar, ao menos em parte, este nivelamento. Além disso, existem barreiras financeiras para evitar que superinvestidores montem times muitos desvios-padrões fora da média do campeonato, o que faria com que o brilho da competição se perdesse. Vejam o que aconteceu com a fórmula 1 na época em que não havia dúvida de que a dupla Ferrari e Schummacher ganharia todas as provas! O público perdeu interesse. Competições precisam de verba para que aconteçam; patrocinadores precisam ter suas marcas vistas pelo público consumidor; a mídia precisa dos fatos para divulgar as notícias. No fundo, um campeonato óbvio não atrai audiência, que afasta os investidores e desaparece dos noticiários.

Tenho observado com certo incômodo a movimentação do mercado do basquete brasileiro.  Poucos times mantiveram seus elencos da última temporada. Joinville, Paulistano, Pinheiros e Minas Tênis perderam boa parte de sua base e ainda não começaram a suprir as lacunas. Araraquara e Limeira estão se licenciando por falta de verba. Vila Velha e Liga Sorocabana também passam por dificuldades financeiras para montar seus times. Tijuca dispensou todo o elenco para recomeçar do zero. Franca mudou não só os jogadores, mas também seu status, passando a ser um time mais jovem (bem diferente da última temporada) e sob comando de um treinador acostumado a lidar com grupos desta característica. Brasília, Bauru, São José e Uberlândia seguraram seus principais jogadores e começam com um grupo forte. Os estreantes Palmeiras e Mogi também mantiveram a base e estão ainda em fase incipiente de contratações de reforços. Ainda há a possibilidade de Fortaleza e Assis aparecerem entre os participantes, mas ainda sem informações sólidas sobre seus elencos. O clube que mais investiu até o momento foi o Flamengo, que renovou de forma expressiva seu elenco. É incontestável que a ausência do time carioca nas finais do NBB nos últimos dois anos fez pressão para que reforços de peso fossem agregados ao grupo.

E é aí que vem minha preocupação. Pelas negociações anunciadas até a data de hoje, ao que parece, aquele equilíbrio de forças tão comum nos jogos de 2011/2012 vai dar lugar a um campeonato de muitos times, mas poucos competidores. A Liga Nacional de Basquete precisa se proteger para manter o NBB imprevisível. Se certame tiver campeão certo antes mesmo dos times entrarem em quadra, será bem mais difícil ver os ginásios cheios como vimos este ano. Algo para se debater, com calma...

terça-feira, 12 de junho de 2012

Progressão Pedagógica no Basquetebol

Uma das grandes preocupações que um professor de iniciação ao esporte ou treinador de categorias de base deve ter diz respeito ao que e como ensinar os fundamentos e demais elementos do jogo. Tenho pra mim que da mesma forma que se programa o conteúdo a ser ministrado ao longo das aulas de matemática ano a ano, um programa de treinamento de longo prazo, partindo da iniciação à modalidade, deveria seguir rigorosamente o mesmo aspecto. 

Cada faixa etária deveria ter um certo conteúdo de fundamentos e situações de jogo a serem ensinados. E não mais do que isso. A cada ano (ou categoria) novos elementos seriam apresentados, ensinados, corrigidos e aperfeiçoados, tornando o aprendizado cumulativo e mais consolidado com o passar do tempo. No entanto, para que isso funcione no longo prazo, é imprescindível que os professores e treinadores elaborem com antecedência e sigam seu programa de treinamento de longo prazo. A ânsia pela conquista precoce de títulos e vitórias estratégicas nas partidas pode desviar o foco deste processo e causar, tempos depois, inconsistências no rendimento dos atletas no final de sua fase de formação. 

Assim, jogadas ensaiadas, defesas mistas ou por pressão quadra toda não deveriam fazer parte da primeira fase da iniciação ao esporte. isso pode fazer ganhar jogos e campeonatos nestas categorias mais jovens, mas certamente queimará etapas no processo de formação dos atletas, criando lacunas em seu desenvolvimento. 

Respeite o momento de cada ensinamento. Desta forma, ele tenderá a ser duradouro! Ensine a jogar, não a fazer jogadas, que nada mais são do que coreografias não compreendidas pelos executantes. Ninguém perde o emprego de técnico de categoria de base por falta de títulos, mas sim por falta de controle, falta de bom senso, por conduta inadequada, etc. Deixe as vitórias e os títulos surgirem como resultado natural de um processo pensado, elaborado, debatido, executado, avaliado e reestruturado a cada vez. Não é proibido ser campeão. Só não faça disso o seu único objetivo!

Veteranos de Basquetebol

Oficialmente, o marco da criação do basquetebol máster, ou maxibasquetebol, nome sugerido na Argentina para representar esta categoria em contraste ao minibasquetebol para crianças, foi a realização de uma partida disputada por ex-jogadores na Argentina em 1969. Logo após este evento, esta modalidade esporte teve forte aceitação na Europa e demais países da América, que organizaram vários torneios e campeonatos internacionais, culminando com o primeiro Campeonato Mundial de Basquetebol Master, na Argentina em 1991, quando foi finalmente criada a Federação Internacional de Maxibasquetebol (FIMBA), que conta com cerca de 75 Associações Nacionais filiadas, entre elas a Federação Brasileira de Basquetebol Máster (FBBM).

Apesar da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (SBME) reconhecer como veterano o atleta a partir dos 35 anos de idade, a FIMBA demarca as idades de 30 anos para mulheres e 35 anos para homens como limite inferior para o esporte máster. Ainda reconhecem a categoria pré-master (a partir de 27 e 30 anos, para mulheres e homens, respectivamente).

No Brasil, o basquetebol de veteranos tem ganho adeptos rotineiramente. Seu início data dos anos 1950 com a criação do Combinado Copacabana do Rio de Janeiro, que tinha por objetivo estender o convívio social através de encontros semanais onde pudessem comentar suas jogadas e feitos, partilhando-as com os amigos e familiares. Desde 1984 é realizado anualmente o Encontro Brasileiro de Veteranos de Basquetebol, evento itinerante que atualmente conta com 23 delegações de 19 estados e cerca de 1200 atletas com idades entre 35 a 75 anos. As categorias são divididas em faixas etárias com interstícios de cinco anos (35 a 39 anos, 40 a 44 anos, e assim sucessivamente), sendo adotadas 10 categorias masculinas e sete femininas. Considerando que com o envelhecimento, várias funções fisiológicas são comprometidas, como por exemplo, perda de força, flexibilidade e mesmo potência aeróbica, diferentemente das divisões de base de qualquer modalidade esportiva, o mais jovem não pode atuar na categoria mais velha, apenas o contrário é permitido.

A participação neste tipo de competição deveria atender aos critérios de elegibilidade determinados pela SBME, mas este fato parece ainda não ser comum entre atletas e organizadores destas competições. Fisiologia à parte, o Encontro Brasileiro de Veteranos de Basquetebol traz a reboque uma imensa integração, pois as partidas normalmente são acompanhadas por uma plateia cheia, composta pelos demais jogadores que já terminaram seus jogos ou que estão aguardando seu momento de entrar em quadra, e ainda seus familiares e amigos, que muitas vezes viajam junto com os grupos.

Além do calendário de jogos (muitos!!!) realizados ao longo da semana, há também uma extensa programação cultural (a depender da cidade-sede), com almoços e/ou jantares festivos e passeios turísticos. Mas, para quem não está diretamente envolvido com os jogos, o que vale a pena mesmo é a oportunidade de ver em ação ídolos de outras épocas da modalidade, que ainda sabem o caminho da cesta.

Outra coisa que chama a atenção é o que em função da condição física menos vigorosa (em especial entre as categorias mais altas), o jogo fica mais coletivo, com valorização dos passes ao invés dos intermináveis dribles e isolamentos. Vale a pena assistir. Isso é história do basquete ao vivo e em cores!

segunda-feira, 11 de junho de 2012

NBA x FIBA


Faz tempo que digo que o basquetebol é da FIBA. O que a NBA faz é outro esporte. Claro que não é, mas às vezes, parece que é. Não é só por conta das regras e dimensões da quadra diferenciadas, mas também por conta do estilo de jogo e do próprio propósito do jogo. Nos EUA o importante é o espetáculo acima de tudo. Tudo é feito para entreter o público, e para isso, certas regras recebem “olhos desatentos” da arbitragem. E nesse sentido, o que me incomoda profundamente é o número de andadas toleradas pelos árbitros de lá. Quem trabalha ou já trabalhou com iniciação do basquetebol perdeu as contas do número de explicações e exercícios educativos adotados para ensinar, corrigir e aperfeiçoar o pé de pivô dos alunos ou atletas. Desde a simples recepção de um passe em movimento, até a finta de corte, o início do aprendizado é cercado de erros (admissíveis, é claro) na execução deste movimento, o que invariavelmente acaba em violação da regra da andada.


Contudo, quando os alunos assistem os jogos da NBA, ficam tentados a imitar os movimentos de seus novos ídolos. E estes, em nome do entretenimento, têm suas andadas desconsideradas. A NBA celebra também a ode ao individualismo, esta supervalorização dos feitos individuais em detrimento das ações coletivas é uma cartilha equivocada para se seguir no processo de formação dos atletas. O fascínio pelos jogos da NBA é tão grande que em épocas diferentes tive atletas que sabiam às vezes o “modelo de tênis que o jogador tal utilizou no jogo contra o aquele time”. Por outro lado, pouco conheciam sobre os atletas brasileiros. Não estou exigindo (embora devesse!) que os atletas nascidos a partir dos anos 1990 conheçam Rui de Freitas, Wlamir Marques, Ubiratan Maciel, Amaury Passos, Zenny de Azevedo (Algodão), entre outros grandes nomes brasileiros da modalidade. O curioso foi descobrir que nem mesmo Rogério Klafke, Demétrius Ferraciú, Helinho, Fernando Minucci, Luís Felipe Azevedo, etc, faziam parte do rol de nomes conhecidos por eles. Acho grave que a memória de nosso esporte esteja sendo substituída pela memória da NBA. E espero que em tempos de NBB forte e organizado, e uma seleção brasileira respeitada, as próximas gerações fiquem mais atentas à bola que é arremessada à cesta por aqui.

As Finais da NBA 2011/2012


Nesta terça-feira começa a melhor de sete partidas que decidirá o novo campeão da NBA. Em quadra Oklahoma City Thunder e Miami Heat duelam pelo troféu e o título máximo do basquetebol. Nos EUA, os times vencedores consideram-se campeões do mundo,mesmo tendo disputado uma competição cujos participantes eram basicamente do próprio país (dos 30 times, apenas um é do Canadá). Os elencos das equipes, por sua vez, já foram mais “nativos” do que atualmente. Até meados dos anos 1990, havia poucos estrangeiros na Liga Profissional Americana. Na virada do século, a NBA abriu as portas ao mundo e favorecendo o ingresso de cada vez mais estrangeiros em suas equipes. Atletas de todos os continentes se inscrevem na lista do draft buscando a oportunidade de receber altos salários e ainda, fazer o que gostam.
Este ano, independentemente do resultado final, o campeão da NBA terá uma característica marcante: faça o que quiser no ataque! Os blogs basqueteiros invariavelmente publicam crônicas nas quais apontam suas impressões, opiniões e palpites para aquele que será o mais espetacular confronto da modalidade: o cestinha da competição (Kevin Durant – Thunder) vs o melhor jogador do campeonato (LeBron James – Heat). Neste momento, corroboro com as opiniões de dois mestres do basquetebol brasileiro, os professores Dante de Rose Jr e Wlamir Marques, que corretamente salientaram a falta de um jogo coletivo no time do Miami Heat. Cada um faz o que quer. LeBron James, depois de precisar reverter uma fama de amarelão que o perseguia há anos, definitivamente passou a resolver tudo sozinho. Mas do outro lado, a coisa não é muito diferente pelas mãos de Kevin Durant.

Comentei em outro texto recente aqui que os 45 pontos de LeBron James no jogo 6 contra o Boston Celtics ofuscaram o trabalho eficiente (e coletivo) da defesa do Miami. Este pra mim foi o fator determinante da vitória e não a performance ofensiva de LeBron. O jogo coletivo se perde na NBA. A final com estes dois times nos trará uma certeza de jogadas espetaculares alimentadas pelo duelo pessoal das estrelas de ambos os lados (não devemos esquecer de Russel Westbrook e Serge Ibaka vs Dwane Wade e Chris Bosh).

A falta do jogo coletivo (programado pelos treinadores, penso eu...) é tão evidente que ambas as equipes titulares atuam sem um armador de ofício. Derek Fisher nem 6º homem é no Thunder, e o único armador relacionado no banco do Heat é o calouro Norris Cole, que pouco jogou ao longo da temporada. Não existe organização tática ofensiva. Os times jogam na base dos contrataques, cuja eficiência é incontestável. Mas o jogo 5 x 5 é dependente dos isolamentos para os astros decidirem sozinhos o destino de cada partida. Isso não quer dizer que os jogos não sejam interessantes, espetaculares e emocionantes. Apenas parecem se distanciar um pouco daquilo que pregamos cotidianamente a nossos alunos e atletas.

Meu palpite para as finais é simples: ou você tem o cestinha das finais ou o troféu de campeão. As duas coisas, não! Quem vai decidir o campeonato é aquilo que resta do jogo coletivo: a defesa.

Treinador: um catalisador de performance


Já faz tempo que penso que o papel do treinador é o de um facilitador para que os atletas obtenham seu melhor desempenho. A função do treinador esportivo é de extrema complexidade, visto a quantidade de saberes diferenciados que ele precisa adquirir e compreender bem para que possa exercer seu trabalho com bom aproveitamento. Diante disso, penso que muitos treinadores ainda se apresentam com base em antigos padrões de comportamento tão marcantes no meio esportivo em outros tempos.

O papel do técnico não é “dar bronca” em seus atletas, e sim orientá-los no sentido de buscar as soluções para os problemas apresentados durante treinos e jogos. Tive uma experiência muito proveitosa durante o torneio feminino do Jogos Universitários Brasileiros (JUB’s) de 2011, realizados em Campinas, SP. Nosso time era formado por atletas muito jovens e sem nenhuma experiência neste tipo de competição; algumas delas foram iniciadas na modalidade naquele mesmo ano, poucos meses antes. Não era viável cobrar resultados numéricos daquele time, mas sim resultados em termos de atitude, comportamento. A vontade de tentar executar os fundamentos do jogo, mesmo que o percentual de aproveitamento fosse baixo. Era o início de um trabalho, e tudo deve acontecer a seu tempo. Na ocasião, fiz uma brincadeira com as atletas dizendo antes de cada jogo que elas tinham recebido certa quantidade de “tíquetes de erro” para utilizar ao longo da partida. Isso foi feito para que elas não se preocupassem em acertar, mas sim em tentar. Cheguei a receber elogios de um dos árbitros que disse “Você é muito didático com as meninas. Queria ter mais técnicos assim por aqui!”. Nos anos seguintes, aos poucos esta exigência deve ir aumentando, mas o treinador precisa saber o momento e a forma de cobrar. E nunca cobre aquilo que não foi ensinado!

Atletas erram ao longo do jogo (já escrevemos um texto anterior aqui no blog sobre isso), e em geral, sabem que erraram. Portanto, enfatizar o erro pode aumentar a barreira para o rendimento. Vejamos dois exemplos interessantes:

Numa das partidas finais do NBB 2, o time de Brasília, dirigido por Lula Ferreira, vencia o Flamengo por pequena diferença no placar, quando seu armador Nezinho tentou fazer uma jogada de efeito e acabou por perder a bola para o defensor adversário, Fred, que fez a cesta. Imediatamente, Lula parou o jogo com um pedido de tempo. Faltavam cerca de um minuto e meio para o fim da partida. Agora, o placar dava vantagem de apenas 4 ou 5 pontos a Brasília. Durante o pedido de tempo, Lula pegou sua prancheta tática e indicou como seria a próxima saída de bola do time, o que deveria fazer de movimentação ofensiva e depois como deveria ser sua defesa, quando a posse de bola voltasse para o Flamengo. Ué, e o erro do Nezinho? Lula nem tocou no assunto. Não precisava. Nezinho sabia que tinha errado, e sabia que não era para repetir aquilo. O pedido de tempo debitado dura apenas 60 segundos. Lula optou corretamente por resolver o problema da equipe, e não pelo destaque do erro cometido. Brasília ganhou o jogo e conquistou seu primeiro título do NBB. Ah, e não me lembro de outra bola perdida por Nezinho desta forma.

Em um outro ambiente, durante uma partida decisiva de um campeonato estadual feminino Sub-17, uma das atletas de um time vinha tendo um rendimento excelente na partida, defendendo bem, pegando rebotes, dando assistências, fazendo o jogo rodar no ataque e, fazendo a maioria das cestas do time. Mas, de repente, ela cometeu um erro de posicionamento da defesa e perdeu um rebote fácil, que resultou em dois pontos do adversário mais uma falta pessoal. Sem perder tempo, o técnico deu-lhe uma bronca publicamente, gritando com a atleta e reclamando da falha cometida. Da arquibancada, comentei com um colega “Ele acabou de perder sua melhor jogadora!”. E não deu outra. A bronca abalou a confiança da jogadora que nas posses de bola seguintes não acertou mais nada. Errou dois arremessos, andou com a bola, errou um passe, e ainda repetiu o mesmo erro defensivo que originou a bronca. E foi sua 4ª falta. Saiu do jogo e mesmo quando retornou mais tarde, não obteve o mesmo rendimento seguro de antes.

O técnico não deve “passar a mão na cabeça” do jogador que erra, mas deve saber o momento e a forma de repreendê-lo. Durante a partida, concentre-se em catalisar a performance de seus atletas, ou seja, busque os meios para que eles mantenham ou adquiram autoconfiança, e mostre o caminho a ser seguido para que os acertos superem os erros. O que você fizer ou falar deve servir para melhorar e corrigir a performance, não para prejudicá-la.

Já não há mais lugar no esporte para os técnicos “bestas feras” tão populares em outras épocas.

Brasil: por que é tão difícil comemorar um vice-campeonato?

Fazer esporte de rendimento no Brasil não é tarefa fácil. E não quero comentar aqui sobre estrutura, apoio financeiro, projetos de massificação esportiva, etc. Vou falar apenas sobre como se avalia a performance de uma equipe em uma competição, seja ela qual for. Por exemplo, no futebol, parece haver um consenso de que o Campeonato Brasileiro é o mais difícil do mundo. Mesmo assim, se um time termina a temporada em 5º lugar, isso é considerado um fracasso. No Brasil, só se valoriza a medalha de ouro, o primeiro lugar. No futebol, todo ano em dezembro, temos um time celebrando o título máximo nacional e outros 19 em crise, precisando demitir o treinador e fazer toda uma reformulação no elenco. Ficar entre os cinco primeiros colocados entre 20 participantes de um campeonato tão disputado e equilibrado como este não pode ser considerado mau resultado.

Outras modalidades também têm competições bem niveladas por aqui. Vejamos a Liga Futsal, Superliga de Volei, o NBB e a Liga Feminina de Basquetebol (LFB). Difícil apontar quem será o campeão antecipadamente. Mesmo assim, ninguém quer menos do que o lugar mais alto do pódio. Dizem que o basquetebol brasileiro ainda possui um baixo nível técnico e que estamos distantes de outros como a Argentina, por exemplo. Mas este ano, Brasília Uniceub e Pinheiros disputaram finais de competições sulamericanas, com reais chances de vitória. Como não ganharam, surge o discurso da inferioridade, do fracasso.

Muito me preocupa que repercussões podem decorrer no caso de uma ausência de medalha olímpica do basquete masculino em Londres 2012. Sejamos realistas: temos muitas chances de medalha, mas nenhuma garantia. O basquetebol evoluiu muito ao redor do mundo, e as profundas alterações geopolíticas ocorridas nos últimos 20 anos tornaram o basquetebol ainda mais competitivo. Da extinta União Soviética vieram a Rússia e a Lituânia. Do desmembramento da Iugoslávia surgiram simplesmente seis potências mundiais da modalidade: Sérvia, Croácia, Bósnia Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Eslovênia. Além disso, temos as tradicionais Itália, Grécia, Espanha, Argentina, Turquia, Canadá e Austrália; países que desenvolveram muito seu nível neste mesmo período, como Alemanha, França, Inglaterra, Irã, Porto Rico, República Dominicana, Venezuela, Uruguai, China, Angola, Tunísia, Nigéria, Jordânia, Coreia do Sul, Nova Zelândia, etc.

O fato é que classificar para os Jogos Olímpicos não é uma tarefa fácil. Acho inclusive injusto dizer que o Brasil ficou 16 anos fora dos Jogos. Essa conta é um sofisma. Ora, se a competição só acontece de 4 em 4 anos, é um tanto quanto cruel considerar na equação os anos pertencentes ao intervalo entre os Jogos. Desta mesma forma, podemos considerar que a Espanha, atual Campeã Olímpica está também há 4 anos sem participar. Até o momento, nossa seleção masculina terá que enfrentar Austrália, China Inglaterra e Espanha (e mais um país a se classificar no Pré-Olímpico Mundial). No outro grupo temos EUA, Argentina, Tunísia, França e mais duas equipes do Pré-Olímpico Mundial.

Bom, se o Torneio Pré-Olímpico (Copa América) não foi fácil, imagine agora a fase olímpica? Tenho boa dose de confiança neste grupo de jogadores brasileiros e na comissão técnica, gerenciada pelo indiscutível Rubén Magnano, mas os adversários não vão nos entregar os jogos de bandeja. Em minha singela opinião, seja qual for o resultado, mostramos que estamos evoluindo, e que o desempenho dos atletas deve ser celebrado, mesmo que a medalha não venha. Nada de entrar em crise. Já estamos entre os 12 melhores do mundo da bola laranja. Agora é só esperar para ver qual é o nosso atual limite.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Heat x Celtics, Jogo 6: Fator Determinante da Vitória

Aos olhos da maioria das pessoas, vai ser muito difícil aceitar que os 45 pontos de LeBron James não foram a chave da vitória do Miami Heat sobre o Boston Celtics no jogo 6 da final da Conferência Leste este ano. Todos os holofotes foram direcionados a LeBron e sua magnífica performance. No entanto, penso que este não foi o fator determinante, mas sim os ajustes defensivos realizados pelo supercriticado técnico dos Heat, Eric Spoelstra. Diferentemente dos outros jogos da série, desta vez a defesa do Heat não deu espaços no meio do garrafão para as infiltrações de Paul Pierce e Rajon Rondo, e nem para os passes do perímetro para as jogadas de Kevin Garnett. Os arremessos também foram pressionados e logo as opções ofensivas do Celtics ficaram consideravelmente reduzidas. O ataque do Miami Heat ficou concentrado em LeBron James (acertou 19 de 26 arremessos), que foi responsável por cerca de 50% dos pontos da equipe. Uma análise mais rigorosa mostra que de fato as cestas que deveriam ser convertidas por Dwane Wade foram transferidas para LeBron. Desta forma, penso que a defesa foi um grande diferencial do Miami e não exclusivamente a eficiência ofensiva de LeBron James. Não quero dizer com isso que defesa do time da Flórida tenha sido ideal. Mas, pelo menos, se encaixou no ataque de Boston e favoreceu a tranquilidade do ataque.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Atleta Tem Que Conhecer A Regra!


Creio que muitas vezes os professores da iniciação esportiva e técnicos não dão o adequado ênfase ao ensino das regras aos alunos e atletas. Penso que não apenas se ensinar e debater as regras, mas também deveriam ser criadas simulações realísticas que permitissem os atletas vivenciar o maior número possível de situações nas quais o conhecimento correto das regras influenciariam sobremaneira a tomada de decisão do jogador e do técnico.

Eu dirigia um time sub-15 no Rio de Janeiro e vencíamos uma partida por apertados 5 pontos de diferença nos instantes finais do jogo, quando o adversário saiu em contrataque e acertou um arremesso de 3 pontos. Nosso armador, dotado de uma síntese de raciocínio impressionante, foi buscar a bola para repor em jogo. Quando pegou a bola, ele olhou para o placar que mostrava faltarem 4 segundos para terminar a partida. Então, ele ficou segurando a bola e olhando para o cronômetro...3...2...1...acabou! Naquela época (1997), o tempo não era interrompido após a cesta nos 2 minutos finais do jogo. Como ele tinha 5 segundos para repor a bola, ele simplesmente não fez o passe, e vencemos aquela disputa. Na quadra, vários jogadores ficaram pedindo que ele passasse a bola logo pois ia acabar o tempo.

Em uma outra equipe que dirigi da mesma faixa etária, perdíamos a partida por poucos pontos e a posse de bola era do adversário. Um atleta nosso ao tentar marcar a reposição de bola na lateral, saiu da quadra, aproximando-se até tocar o adversário. O árbitro interrompeu o lance e advertiu o jogador para que ele não fizesse isso. Assim que o árbitro devolveu a bola para o adversário, nosso jogador repetiu a mesma ação. Dessa vez, o árbitro não advertiu, e sim, aplicou-lhe uma falta técnica. Por que o jogador fez isso? A regra vigente na época determinava que quando uma falta técnica fosse aplicada a um jogador na quadra, a penalidade seria apenas a cobrança de dois lances livres (hoje, além dos arremessos há a posse de bola). Ele contava com a possibilidade do erro nos lances livres, seguido de rebote defensivo, retomando a posse de bola. Não foi uma atitude de fair play, mas um uso inteligente da regra.

Na NBA, durante as finais da Conferência Leste, o armador Rajon Rondo, do Boston Celtics, tinha direito a uma reposição de bola no fundo da quadra de ataque, faltando apenas 0,9 segundos de posse de bola. Dwane Wade, do Miami Heat estava a sua frente para atrapalhar tanto sua visão como suas opções de passe. Foi aí que Rondo ao invés de passar a bola par algum companheiro de time, limitou-se a fazer um passe baixo, contando com o salto do adversário. Neste momento, a bola tocou diretamente a perna de Wade, o que, pelas regras da NBA, interrompeu a jogada e deu nova posse de bola de 14 segundos ao Celtics. Era um lance provavelmente perdido em função do mínimo intervalo de tempo para se fazer uma jogada. Mas, o conhecimento de regra permitiu mais uma vez que a equipe ganhasse segundos suficientes para organizar suas ações ofensivas.

Existem certamente muitos outros exemplos de como fazer um uso inteligente da regra, ou ao menos evitar se prejudicar pelo desconhecimento da mesma. Entretanto, o treinador deve buscar nos treinos apresentar situações em que os atletas precisem tomar decisões levando em consideração as regras atualizadas do basquetebol.

E Agora O Que Eu Faço???

Por Luiz Eduardo M Gois Jr

Sabe aquelas situações que você tem várias opções para escolher? Por exemplo, num restaurante olhando o cardápio para escolher o prato. Ou quando você fica olhando o seu guarda-roupa para escolher com que roupa vai para aquela festa. Ou também em épocas de eleições quando você fica naquela dúvida cruel para decidir em quem vai votar. Pois é, essas situações são “problemas” que exigem que você tome uma decisão para resolvê-las. Nessas situações você pode levar, minutos, horas e até mesmo meses para tomar a sua decisão.

No basquete, também existem esses “problemas” para o jogador resolver durante a partida. E não é um problema só, a todo o momento ele se depara com uma situação diferente, que vai exigir dele uma resposta. Esses problemas são gerados justamente pela relação dos vários elementos presentes no esporte, como o tempo, os adversários, os companheiros, etc. “Devo arremessar agora?”; “Infiltro ou passo?”; “Para quem eu passo?”, esses são alguns exemplos de perguntas que ele se faz quando está com a bola e tem que tomar alguma decisão.

Mas você se engana se pensa que numa partida de basquete só os jogadores tem que tomar decisões. Não se esqueça de que os árbitros também tem que decidir se aquele lance foi uma andada, uma falta do atacante ou do defensor, se a bola tava na ascendente, etc. Ou seja, o árbitro também tem que estar preparado para tomar decisões em um curto espaço de tempo. Diferentemente do futebol, o árbitro de basquete trabalha com o apito na boca, pronto para assoprar. Não existe a lei da vantagem no basquete como se aplica no futebol. O número de tomadas de decisão de um árbitro pode ultrapassar as 180 conclusões, quando se consideram as faltas, violações e aqueles lances nos quais o trio de arbitragem entenda que nada deveria ser marcado.

Ah! Não podemos esquecer o técnico, “Devo pedir tempo agora?”; “Aquele jogador está mal, devo substituí-lo?”; “Que tipo de defesa faço agora para neutralizar o ataque adversário?”; “O jogador tem quatro faltas, mas está arrebentando com a partida, deixo ou tiro de quadra?”; pois é, esses são somente alguns exemplos de decisões que devem ser tomadas por ele durante a partida. O treinador é o único que uma decisão tomada antes do início do jogo pode ter influência no decorrer da partida, pois ele tem que decidir qual equipe vai começar jogando.

O grande problema é que os jogadores, os técnicos e os árbitros não tem 10 minutos, 1 hora ou 2 meses para decidir. A decisão tem que ser feita em milésimos de segundo, e o pior ainda tem que decidir certo. Portanto, numa partida de basquete todos envolvidos devem estar preparados para tomar decisões, pois uma decisão errada de qualquer um deles pode ser a diferença entre a vitória e a derrota, a classificação e a desclassificação, o título e o vice. Para isso, não é suficiente que se tenha um bom entendimento do jogo em seus aspectos técnicos, táticos, das regras e a própria condução disciplinar da partida. É preciso que todos os envolvidos tenham boa condição física e que evitem o déficit de sono, fator interveniente da performance cognitiva.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Basquetebol nas Ondas do Rádio


Este ano os play-offs da NBA ganharam um plus em relação ao que já havia de bom das outras temporadas. A partir das finais das Conferências, os jogos passaram a ser transmitidos também via rádio! A ESPN, emissora que compartilha os direitos de transmissão no Brasil com o canal Space, do grupo TNT, por questões contratuais só poderia passar os jogos da Conferência Leste (Boston Celtics x Miami Heat). Mas, para a satisfação de todos os acostumados ao estilo de narração de Everaldo Marques e os comentários pontuais de Eduardo Agra e José Roberto Lux (Zé Boquinha), a parceira entre o canal ESPN e a Rádio Estadão trouxe de volta a emoção do basquetebol às ondas do rádio para os jogos da Conferência Oeste (San Antonio Spurs x Oklahoma City Thunder). Tudo bem que agora no século 21 o rádio é via internet, mas de que outra forma aqueles que não moram na capital paulistana (ou mesmo fora do país) teriam chance de ouvir o jogo. A primeira transmissão me fez voltar no tempo, muitos anos! Me lembro da época de adolescente quando o basquetebol do Rio de Janeiro podia ser ouvido. Não havia cobertura da TV e logicamente, nem se pensava ainda em internet, afinal eram os saudosos anos 1980. Naquele tempo, os nomes ouvidos no radinho de pilha colado no rosto eram Sartori, Rocky Smith, Byra (Bello), Peixotinho, Marcão, Pai Nego, Aguirre, Paulo Chupeta, Thompson, Boleta, Carlão, Fioravante, Cabrera, Bigú, Luisinho, Charuto, Luís Brasília, Lelo, Fabinho, Emmanuel BomfimPingo, entre tantos outros que o tempo me faz escapar da memória. Eram tempos de Maracanãzinho lotado! E todo mundo querendo ouvir Luiz Penido narrar “chuáááá” a cada cesta convertida. Que bom o retorno do rádio ao basquetebol! Que venha para ficar! Obrigado Everaldo, Agra e Zé Boquinha! 

Como medir a qualidade de um jogo ou campeonato?


Essa é uma questão ainda sem uma resposta convincente. Qual o parâmetro a ser usado? Que competição no mundo pode ser considerada como o “padrão-ouro” dos campeonatos? Jogos Olímpicos? Campeonatos Mundiais? Euroliga? NBA? As opções são muitas, mas de que forma categorizar os torneios? E os jogos? O que faz um jogo ser bom ou ruim? Certamente as emoções contidas numa disputa equilibrada não definem a qualidade técnica da partida. Duas equipes niveladas por baixo podem render surpresas e indefinições até os instantes finais da disputa, mas sem o requinte da performance de seus atletas. As estatísticas do jogo também nem sempre traduzem adequadamente a qualidade do jogo, apenas a eficiência dos participantes. Entre os estudos que analisaram que fundamentos são determinantes para a vitória, o rebote defensivo é o elemento em comum em todas as conclusões. Convenhamos que este, apesar da indiscutível importância, não é lá um lance do jogo que inspire a torcida a vibrar. E nem de longe denota a qualidade técnica das equipes. Outra coisa, quantos jogos precisam ser analisados para se ter uma ideia do nível técnico em quadra? Se considerarmos a final do NBB deste ano, teremos uma visão equivocada do que foi a temporada. Será que a falha em jogar bem a partida decisiva deve ser então um aspecto a ser avaliado? Penso que não, pois quem assistiu a final da Euroliga também viu um jogo em que durante boa parte (a primeira metade pra ser mais exato) os atletas de ambos os times deixaram muito a desejar. A NBA também alterna momentos espetaculares (Dwane Wade bloqueia a tentativa de enterrada de Brandon Bass e no rebote Ranjon Rondo faz uma assistência com o tapinha para a cesta de 3 pontos de Mikael Pietrus)...



 ...e outros erros típicos de iniciantes (veja a volta de bola de Rajon Rondo no jogo Miami Heat x Boston Celtics, 5ª partida da final da Conferência Leste). 


As tomadas de decisão dos jogadores da Liga Profissional Americana também são bastante questionáveis em certos momentos da partida, como irresponsáveis arremessos de três pontos no contrataque sem rebote, por exemplo. O fato é que ainda prevalece a subjetividade na avaliação da qualidade técnica dos jogadores e das partidas. E nesta subjetividade, acho que a exceção da NBA, dentro das quadras nosso basquete não está tão distante assim do que é feito mundo afora.