É claro que
essa pergunta não tem uma resposta clara e objetiva, mas faz a gente pensar
sobre a atuação dos técnicos durante a preparação da equipe para o jogo, e
durante o jogo em si. Interpreto estes dois momentos de forma diferente,
compreendendo que o treinador tem a responsabilidade de preparar o time ao
longo da semana, enquanto o técnico assume prioritariamente a responsabilidade
durante a partida. No Brasil, ambas as funções normalmente são exercidas pela
mesma pessoa.
Este ano, os
jogos dos play-offs da NBA mostraram
algo interessante para se debater acerca do papel dos técnicos no desempenho das
equipes. Falo em especial do técnico do Miami Heat, Erik Spoelstra, campeão da
atual temporada. Ao longo de seu trabalho, aliás, desde o início, muitas
dúvidas pairaram no ar acerca do comando do jovem ex-assistente técnico que foi
convidado a assumir a função de treinador principal. Os administradores da
franquia da Flórida montaram um time com o intuito de se criar uma nova dinastia
na Liga. A chegada de LeBron James e Chris Bosh deu ao time um padrão
diferenciado, sendo apontado como um dos mais fortes candidatos ao título. O
título não veio em seu primeiro ano, e logo a pressão sobre o treinador ganhou
força. O início ineficiente fez para muitos críticos, o treinador balançar no cargo,
mas a diretoria, principalmente aquele que o colocou na função, o presidente da
corporação, Pat Rilley, manteve as coisas como estavam, pois pareciam acreditar
em Spoelstra. Mas, o que somente Pat Rilley viu, que ninguém mais percebeu?
Penso que o
grande problema ao se criticar é que a ignorância é a mãe do pensamento livre,
ou seja, quando você não conhece todos os fatores associados a uma situação qualquer
sua versão dos fatos fica repleta de lacunas, e a tendência é completarmos a
estória a nosso próprio gosto. Quem aqui acompanhou o dia-dia dos treinos em Miami
para saber como era o convívio dos atletas com o treinador? Afirmar que
Spoelstra não tem carisma e, portanto, não tem comando sobre o grupo é um tiro
longo e quase leviano.
Em minha
opinião, Spoelstra paga o preço por ser jovem e de estilo low profile. É importante não ignorar os diferentes estilos de
liderança de grupos. Já comentei aqui em outra oportunidade que o treinador
deve ser um catalisador de performance, buscando os meios e métodos para que
seus atletas alcancem o mais alto nível de rendimento individual e coletivo.
Estamos (mal) acostumados com os técnicos “besta fera” em nossas quadras,
campos e etc. Devemos entender que para muitos atletas, falar é suficiente, gritar
é over. Se a mensagem foi enviada e
assimilada através de uma conversa num tom de voz normal, não há a necessidade
de se quebrar a prancheta e vociferar perante o grupo. Já vi técnicos dando
bronca no time e olhando para a arquibancada atrás do banco de reservas, dando
atenção a “sua plateia”. E no final, se perdem o jogo, a culpa é daquele
jogador que errou o último arremesso ou daquele outro que não fechou o rebote.
Talvez ainda sobre para os árbitros, mas nunca, nunca a derrota é de
responsabilidade do técnico. Por outro lado, a cada vitória há a celebração de
uma conquista gerada pela perfeita orientação da equipe, dando um “nó tático”
no adversário. Será mesmo?
Pra quem não
sabe, Spoeltra foi o responsável por criar e implantar o atual sistema de análise
de performance utilizado pelo Miami Heat, ou seja, é um especialista em estratégia.
Observe as mudanças marcantes na forma de jogar do time ao longo dos play-offs. Os ajustes eram feitos para
cada adversário, limitando as ações ofensivas de acordo com a identificação dos
pontos fortes dos times, em especial, ao se observar a dificuldade do Celtics
para infiltrar no garrafão do Heat nos jogos 6 e 7 da final da Conferência
Leste, e depois, nos jogos contra o Oklahoma City Thunder. A defesa, que já era
considerada uma das melhores da Liga, ficou ainda mais aguerrida nas finais. O
ataque, apesar da forte individualidade do trio James-Wade-Bosh, passou a
adotar medidas alternativas, explorando o jogo interno de LeBron (ao invés dos
chutes do perímetro) e sua distribuição de bola nas dobras de marcação, aliados
aos confiantes arremessos de três pontos de Mario Chalmers, Shane Battier e
Mike Miller. O Miami Heat mudou, amadureceu e virou um time. Precisou de 16
vitórias na pós-temporada para mostrar isso. E eu, particularmente, não
acredito que estas mudanças não tenham passado pelas mãos de Erik Spoelstra.
Ele entende do assunto. Pode demorar,
mas vai mudar a opinião de muita gente.
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