sábado, 23 de junho de 2012

Quem Ganha o Jogo: o técnico ou o jogador?


É claro que essa pergunta não tem uma resposta clara e objetiva, mas faz a gente pensar sobre a atuação dos técnicos durante a preparação da equipe para o jogo, e durante o jogo em si. Interpreto estes dois momentos de forma diferente, compreendendo que o treinador tem a responsabilidade de preparar o time ao longo da semana, enquanto o técnico assume prioritariamente a responsabilidade durante a partida. No Brasil, ambas as funções normalmente são exercidas pela mesma pessoa.

Este ano, os jogos dos play-offs da NBA mostraram algo interessante para se debater acerca do papel dos técnicos no desempenho das equipes. Falo em especial do técnico do Miami Heat, Erik Spoelstra, campeão da atual temporada. Ao longo de seu trabalho, aliás, desde o início, muitas dúvidas pairaram no ar acerca do comando do jovem ex-assistente técnico que foi convidado a assumir a função de treinador principal. Os administradores da franquia da Flórida montaram um time com o intuito de se criar uma nova dinastia na Liga. A chegada de LeBron James e Chris Bosh deu ao time um padrão diferenciado, sendo apontado como um dos mais fortes candidatos ao título. O título não veio em seu primeiro ano, e logo a pressão sobre o treinador ganhou força. O início ineficiente fez para muitos críticos, o treinador balançar no cargo, mas a diretoria, principalmente aquele que o colocou na função, o presidente da corporação, Pat Rilley, manteve as coisas como estavam, pois pareciam acreditar em Spoelstra. Mas, o que somente Pat Rilley viu, que ninguém mais percebeu?

Penso que o grande problema ao se criticar é que a ignorância é a mãe do pensamento livre, ou seja, quando você não conhece todos os fatores associados a uma situação qualquer sua versão dos fatos fica repleta de lacunas, e a tendência é completarmos a estória a nosso próprio gosto. Quem aqui acompanhou o dia-dia dos treinos em Miami para saber como era o convívio dos atletas com o treinador? Afirmar que Spoelstra não tem carisma e, portanto, não tem comando sobre o grupo é um tiro longo e quase leviano.

Em minha opinião, Spoelstra paga o preço por ser jovem e de estilo low profile. É importante não ignorar os diferentes estilos de liderança de grupos. Já comentei aqui em outra oportunidade que o treinador deve ser um catalisador de performance, buscando os meios e métodos para que seus atletas alcancem o mais alto nível de rendimento individual e coletivo. Estamos (mal) acostumados com os técnicos “besta fera” em nossas quadras, campos e etc. Devemos entender que para muitos atletas, falar é suficiente, gritar é over. Se a mensagem foi enviada e assimilada através de uma conversa num tom de voz normal, não há a necessidade de se quebrar a prancheta e vociferar perante o grupo. Já vi técnicos dando bronca no time e olhando para a arquibancada atrás do banco de reservas, dando atenção a “sua plateia”. E no final, se perdem o jogo, a culpa é daquele jogador que errou o último arremesso ou daquele outro que não fechou o rebote. Talvez ainda sobre para os árbitros, mas nunca, nunca a derrota é de responsabilidade do técnico. Por outro lado, a cada vitória há a celebração de uma conquista gerada pela perfeita orientação da equipe, dando um “nó tático” no adversário. Será mesmo?

Pra quem não sabe, Spoeltra foi o responsável por criar e implantar o atual sistema de análise de performance utilizado pelo Miami Heat, ou seja, é um especialista em estratégia. Observe as mudanças marcantes na forma de jogar do time ao longo dos play-offs. Os ajustes eram feitos para cada adversário, limitando as ações ofensivas de acordo com a identificação dos pontos fortes dos times, em especial, ao se observar a dificuldade do Celtics para infiltrar no garrafão do Heat nos jogos 6 e 7 da final da Conferência Leste, e depois, nos jogos contra o Oklahoma City Thunder. A defesa, que já era considerada uma das melhores da Liga, ficou ainda mais aguerrida nas finais. O ataque, apesar da forte individualidade do trio James-Wade-Bosh, passou a adotar medidas alternativas, explorando o jogo interno de LeBron (ao invés dos chutes do perímetro) e sua distribuição de bola nas dobras de marcação, aliados aos confiantes arremessos de três pontos de Mario Chalmers, Shane Battier e Mike Miller. O Miami Heat mudou, amadureceu e virou um time. Precisou de 16 vitórias na pós-temporada para mostrar isso. E eu, particularmente, não acredito que estas mudanças não tenham passado pelas mãos de Erik Spoelstra. Ele entende do assunto.  Pode demorar, mas vai mudar a opinião de muita gente. 

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