sábado, 30 de junho de 2012

Ser Campeão Hoje ou no Futuro?


Por Luiz Eduardo M. Gois Jr

Como já foi dito no texto "Progressão Pedagógica no Basquetebol" o basquete dever ser ensinado respeitando as faixas etárias dos alunos, apresentando novos elementos a cada ano e tornando o aprendizado cumulativo. Em outro texto, “E Agora o Que Eu Faço”, comentamos que o jogador de basquetebol é obrigado a tomar decisões em curto espaço de tempo. Portanto ensinar o “por que fazer” deve fazer parte do conteúdo programático de ensino do basquete desde primeiras fases de aprendizagem e deve ser mais importante do que simplesmente ensinar o “como fazer”.

Em alguns Estados brasileiros os clubes não participam do processo de formação de atletas e equipes, cuja responsabilidade passa a ser exclusivamente das escolas. Nestas praças os campeonatos escolares têm relativamente bom espaço na mídia, o que acaba tornando-os um meio de fazer propaganda das escolas. E para isso, os resultados expressos na forma de títulos e medalhas, são os principais objetivos das escolas e consequentemente dos professores. Essa busca por este tipo de resultado nas divisões de base gera problemas que deveriam ser evitados. Essa pressão por resultados faz com que os professores queimem etapas e às vezes utilizem abordagens metodológicas que não são adequadas para determinadas etapas de ensino da modalidade.

E quais são as metodologias usadas no ensino dos esportes? Existem duas principais, a metodologia tradicional, que é aquela que se preocupa com o ensino dos fundamentos fora do contexto do jogo, ou seja, apenas pela repetição do gesto. Exemplo, o ensino do passe utilizando duas colunas uma de frente para o outro passando a bola, excluindo um dos elementos principais da modalidade que é a oposição, o que vai acabar omitindo também as tomadas de decisão, as percepções das diferentes situações, etc.

Nessa metodologia é ensinado ao aluno apenas o “como fazer” e deixando de lado o entendimento do jogo, o “por que fazer”. Que pode ser ensinado utilizando a metodologia situacional, que tem como característica principal a utilização de situações de jogo. Exemplo, jogos de 1x1, 2x2, 3x3, nesse caso não existe a exclusão da oposição, além disso, vai estimular a capacidade de percepção e de tomar decisões dos jogadores. Fazendo uma analogia ao cotidiano, na metodologia tradicional o professor leva o aluno para um restaurante e determina qual o prato que ele tem que comer, já a situacional o professor mostra o cardápio para o aluno escolher o melhor prato. Ele pode até escolher errado e não vai gostar do prato, mas na próxima vez ele saberá que aquela opção não é a melhor e vai saber por que escolher um prato diferente.

O que acontece quando o principal objetivo do professor é ser campeão e não formar jogadores eles acabam utilizando apenas a metodologia tradicional, principalmente porque o resultado acontece mais rapidamente. Quando o professor está preocupado em formar um jogador ele utiliza as situações de jogo, trabalhando o entendimento da modalidade com seus alunos. A “desvantagem” desse método é o que o resultado só vem a longo prazo, o processo nessa metodologia é mais demorado e muitos professores não tem paciência para utilizá-lo.

Portanto, nas etapas de formação de atletas, é importante que os professores tenham uma visão a longo prazo e pensem na formação do jogador para que ele possa ser campeão no futuro e não apenas campeão mirim dos jogos escolares do ano corrente. E para isso dê ao aluno um cardápio para ele escolher o prato e não diga apenas o prato que ele deve comer.

9 comentários:

  1. Parabéns Eduardo, texto belissimo, entretanto não deve ser direcionado apenas aos professores/técnicos, mas também aos coordenadores e diretores das escolas e ao próprio governo seja ele municipal, estadual ou federal que promovem muitos dos eventos competitivos em faixas etárias em que deveriam estimular os festivais.

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    1. Concordo plenamente com Você Arthur. Nessas faixas etárias realmente os eventos competitivos não deveriam ser prioridades. Os festivais seria uma ótima ferramenta para a divulgação e estímulo a novos praticantes. Mas não é isso que acontece aqui infelizmente.
      Mas mesmo assim, com as competições é possível o professor seguir uma metodologia que forme o jogador e não apenas tenha como objetivo ser campeão mirim naquele ano.

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  2. Parabéns pelas colocações. É exatamente o que penso desse processo.

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    1. Obrigado. Quem sabe a gente não consegue abrir os olhos dos demais professores também!

      Atleta a gente não forma do dia para a noite!

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  3. Recebi vários "parabéns, você é muito talentoso e acima da média da sua idade" quando era moleque...isso não me serviu de nada.

    Sempre amei o basquete, mas minha escola nunca me deu o mínimo apoio no sonho de jogar basquete profissional.

    E concordo com arthur. Direção da escola, governo, e PRINCIPALMENTE, a Federação estadual do esporte correspondente, deve se preocupar com isso. Progressão de carreira é algo que deve ser muito bem planejado para todos os que se arriscam na área, com muito talento ou nenhum.

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    1. Pois é Paulistinha, é isso o que acontece.

      O que ta faltando é a participação das Federações e principalmente dos CLUBES na formação dos atletas. Estão deixando que isso seja responsabilidade das escolas.

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  4. Parabens Eduardo, pelo comentario sobre os metodos de ensino de alguns profores desta modalidade. No meu caso, as praticas estam ligadas a tradição do futsal, ja tentei intriduzir o Handebol, o Volei e nao deu certo, vou tentar o Basquete. Mas na verdade o que precisamos é de administradores que valorizem os esportese e envistam nesta categoria.

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    1. O importante é que os professores tenham paciência. Pois a formação de atletas não acontece de um dia para o outro. É preciso disponibilizar aos alunos experiências para que ele entenda a modalidade que prática e não apenas repita os gestos que o professor ensina.
      É unanime que precisamos de administradores que valorizem e invistam nos esportes. Mas não podemos ficar dependendo apenas deles para que o processo aconteça. É claro que com apoio as coisas ficam mais fáceis, mas nós não podemos desistir na primeira dificuldade que encontramos.

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  5. Olá todos!

    Que bom ver o blog movimentado! Permitam-me dar uma breve contribuição ao indicar a leitura de três textos recentemente publicados no É Cesta! e que versam sobre o dirigente esportivo:

    1. O Dirigente Esportivo no Esporte de Base: http://www.ecesta.blogspot.com.br/2012/06/o-dirigente-esportivo-no-esporte-de.html

    2. O Dirigente Esportivo no Brasil: http://www.ecesta.blogspot.com.br/2012/06/o-dirigente-esportivo-no-brasil.html

    3. Brasil: Por Que É Tão Difícil Comemorar um Vice-campeonato?: http://ecesta.blogspot.com.br/2012/06/brasil-por-que-e-tao-dificil-comemorar.html

    Abraços e Boas Cestas!

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