sábado, 30 de junho de 2012

O Dirigente Esportivo no Esporte de Base


Li num site de rede social esta semana uma denúncia/reclamação de uma pessoa que relatava ter seus atletas de categorias de base (e seus pais!) sendo assediados por um diretor de outro clube. No relato, havia promessas de ganhar camisas do clube e outras formas de brindes numa tentativa de seduzir os jovens atletas (todos menores de idade) e seus pais para se transferir para o novo clube.

Os comentários publicados logo abaixo do relato mostraram clara indignação dos leitores em relação ao gesto atribuído ao diretor. Infelizmente, esta é uma prática antiga, que pelo visto, ainda não entrou em desuso. Já escrevemos um texto recente acerca da formação e da atuação do dirigente esportivo, mas é certo que o assunto não se esgotou. Há uma premissa básica na formação de atletas que postula que “da quantidade extraímos a qualidade”. Assim, precisamos da massificação da prática esportiva para que possamos identificar e selecionar os talentos esportivos. Qual o passo seguinte?

Existem muitos professores e treinadores da base que, apesar de condições precárias e de baixos salários, executam trabalhos condizentes com sua paixão pelo basquetebol. Em clubes de baixo investimento estes treinadores chegam a trabalhar de graça. Depois de meses ou anos de dedicação, quando finalmente conseguem obter uma geração de atletas promissores, podendo fazer com que o clube de baixo investimento tenha chances de jogar quase em igualdade de condições com os clubes de alto investimento, surgem os convites destes últimos, desmontando time original. O resultado dessa iniciativa é o fim das atividades daqueles clubes.

Há uma decisão a ser tomada que parece simples, mas de fato não é. O que fazer com estes atletas iniciantes: deixá-los no clube original ou transferi-los para um clube maior? Vamos aos argumentos de cada lado. Deixar no clube original permite a continuidade do trabalho da instituição e visa à possibilidade de se descobrir outros talentos da modalidade, em função de haver mais um espaço disponível para a prática. Isso também tende a diminuir a diferença da qualidade de jogo entre os clubes de diferentes níveis de investimento. Por outro lado, há quem defenda a ideia de que o atleta pode vir a se desenvolver de forma mais consolidada se inserido numa estrutura mais abrangente. Neste contexto, os dois lados têm razão. Mas quem deve tomar a decisão?

Em nossa opinião, esta deveria ser uma decisão pautada no debate entre treinadores e não diretores. Vi diretores de categorias de base atuarem no sentido de enfraquecer seus rivais, sem se preocupar com o desenvolvimento do esporte. Em outras épocas, havia times sub-13 ou sub-15 no Rio de Janeiro que detinham todos os armadores de boa qualidade do Estado, não deixando nenhum para os adversários. O problema é que não há vaga para todos jogarem num mesmo time. Assim, o tal desenvolvimento a partir de uma estrutura melhor não acontecia, pois o atleta nem entrava em quadra. Melhor seria obter a experiência de jogo enfrentando as adversidades do próprio jogo na prática, mesmo num clube menos estruturado.

A responsabilidade do diretor de categorias de base não pode ser apenas com os títulos e medalhas de próprio clube, mas deve focar metas de desenvolvimento do esporte como um todo. Se não há adversários de qualidade, não há meios de fazer seu time melhorar. Este é um dos mais básicos princípios do treinamento desportivo: sobrecarga e adaptação. Seu time precisa enfrentar adversários de mesmo nível de jogo ou algo melhor (sobrecarga) para que possa melhorar suas habilidades atléticas, físicas, técnico-táticas, psicológicas e cognitivas (adaptação). Volto a insistir, o dirigente esportivo não pode ser simplesmente um ex-atleta ou pai apaixonado pelo esporte. Tem que ter formação específica para exercer ética e eficientemente sua função.

Um comentário:

  1. Me veio uma dúvida agora. Existe alguma regra no NBB e na Liga Feminina para que as equipes participantes sejam obrigadas a ter divisões de base?
    Eu acho que se não existe deveria existir alguma regra se não obrigando mas pelo menos que incentivasse isso. Por exemplo um desconto no valor pago para ter a franquia do NBB. Quem sabe isso não ajudaria na formação de novos jogadores.

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