quarta-feira, 18 de julho de 2012

Nosso Basquete Feminino

O basquete feminino brasileiro já viveu seu momento de maior expressão da modalidade no mundo. Durante uma década inteira, os corações basqueteiros daqui se orgulharam das conquistas do Panamericano de Havana (1991), o Campeonato Mundial na Austrália (1994), e das medalhas de prata nos Jogos Olímpicos de Atlanta (1996), e bronze em Sidney (2000).
 
 
 
Infelizmente, com a virada do milênio, parece que o esporte brasileiro perdeu seu brilho e seu status. Apesar das constantes participações nos torneios olímpicos, nunca mais alcançamos o pódio nas principais competições do mundo. O que tem acontecido?
 
Sabemos que o esporte feminino não obtém a mesma oportunidade na mídia esportiva, e isso não é só no Brasil. A cobertura da imprensa para os jogos femininos da NCAA ou da WNBA, assim como de nossa ainda jovem Liga de Basquete Feminino (LBF), é muito modesta. De que maneira isso reflete sobre a qualidade do trabalho desempenhado nas quadras? Penso que muito. A CBB passou por mudanças administrativas que ainda não surtiram os efeitos desejados e que podem fazer o hino nacional ser ouvido novamente na cerimônia de premiação dos Jogos Olímpicos. Não conheço profundamente o trabalho do atual técnico, Luís Cláudio Tarallo, apenas vi seu currículo mais recente no site da própria CBB, e fica óbvio que lhe falta experiência. Mas esta experiência só se adquire com o tempo e as responsabilidades de tomar decisões.
  
Não gostei do fato da seleção feminina ter tido um grande rodízio de treinadores durante este ciclo olímpico, pois isto impede a determinação de uma filosofia de trabalho e padrão de jogo no longo prazo. Estas coisas não se resolvem do dia para a noite, portanto o técnico precisa de tempo para trabalhar. Faz parte de seu trabalho assistir aos jogos e competições, receber e interpretar as informações de atletas que jogam no exterior, acompanhar as divisões de base para que se possam identificar aquelas atletas que podem fazer parte da seleção alguns anos depois. Preparação olímpica ocorre constantemente, não apenas próximo à competição.

Vi numa entrevista da diretora do basquete feminino da CBB, a ex-atleta Hortência Marcari, que a intenção da instituição é dar vivência neste tipo de competição ao treinador Tarallo, para que em 2016 ele esteja em plenas condições de obter resultados mais expressivos. Temos que analisar isso de duas formas diferentes. Uma é que este é o início de um novo processo, de renovação da estrutura do basquete feminino brasileiro, e que diante do atual quadro, acertadamente estamos sacrificando os Jogos de Londres 2012 para nos prepararmos de fato para o ciclo seguinte. Correto. A outra análise é por que deixamos escapar o que tínhamos de concreto nos anos 1990? Será que um título mundial e duas medalhas olímpicas não eram suficientes para mobilizar variados projetos de iniciação esportiva, em especial entre meninas, no basquetebol brasileiro? Por que o esporte brasileiro é tão dependente de “momentos extraordinários” ou “gerações espontâneas de atletas” e não baseado em uma linha de trabalho que permita continuidade?
 
O curioso é que na América do Sul, ainda não temos adversárias. Mesmo países com contínuos trabalhos de qualidade no masculino, como Argentina, República Dominicana, Porto Rico ou Venezuela, não conseguem montar equipes femininas que exijam da seleção brasileira um esforço diferenciado para vencer as partidas. Urge a necessidade do Ministério do Esporte, do Comitê Olímpico Brasileiro, da Confederação Brasileira de Basketball e da Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol trabalharem em conjunto para que sejam traçados os planos para o futuro do basquete feminino no Brasil. Acho que o mundo da bola laranja espera isso de nós.

Um comentário:

  1. O problema é que a renovação foi feita de um a vez só. Um time que tinha Hortência, Paula e Janete. Essas jogadoras foram se aposentando uma de cada vez, e sempre as que ficavam, se tornavam a peça principal e não surgiram novas atletas que pudessem ajudar as que iam ficando. Até Janete se aposentar, que ai pensaram: "É agora temos que arranjar as "substitutas" delas". Ai já era tarde. Tiveram que abrir mão praticamente de dois ciclos olimpicos, para formar uma equipe para 2016.
    O jeito agora é ter paciência com esse time de 2012. E torcer que essas sementes que estão sendo plantadas tardeamente dê belos frutos em 2016?
    Afinal tem um ditado que diz: "Antes tarde do que nunca"

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