Há poucas
semanas li no twitter um comentário de um dirigente do E.C. Pinheiros acerca da
preocupação por estar disputando três competições simultaneamente e que adotam
diferentes marcas de bolas. Qual o problema disso? Na verdade, muitos! As três
competições são o Campeonato Estadual Paulista (finais), Liga Sulamericana
(fase semifinal) e o Novo Basquete Brasil (início da fase regular). As bolas
são Pênalty (Campeonato Paulista), Molten (Liga Sulamericana) e Spalding (NBB). Pode parecer besteira,
mas na verdade não é. A regra da FIBA não determina um único tamanho e peso da
bola para a categoria adulto, por isso são permitidas variações de peso entre 567
g e 650 g, e circunferência entre 749 mm e 780 mm.
Estas
diferenças parecem ser pequenas, mas de fato trazem modificações importantes na
forma de segurar a bola e também na força aplicada para driblar (controlar),
passar e principalmente arremessar a bola à cesta. Desconsiderar estas
características é um equivoco que precisa ser evitado. Outra questão
interessante é relativa ao material de confecção da bola. A textura do tecido
que reveste a bola pode aumentar ou não o chamado grip, ou seja, a aderência da mão à bola. Temos um melhor controle
com uma bola com menor circunferência e melhor grip, o que favorece os dribles e fintas, e os rebotes, por exemplo.
Por outro lado, apesar dos arremessos de longa distância ficarem mais fáceis, o
ajuste neuromuscular que deve ser feito pode comprometer a precisão. Vamos
entender que quando treinamos de forma repetitiva um mesmo gesto motor, a
tendência é que acabemos por determinar uma espécie de “memória motora
inconsciente” (conhecido como engrama motor). Essa memória motora permite que
façamos um movimento sem pensar, de forma automática.
Por exemplo, nos
Jogos Panamericanos de Indianápolis em 1987, o treinador do time brasileiro,
Prof. Ari Vidal, exigia que seus jogadores executassem após cada sessão de
treino, 500 arremessos convertidos das suas posições convencionais de arremesso
em quadra, em situação de jogo, inclusive marcado e em aro menor. Na final
contra os EUA, os arremessos certeiros de Marcel de Souza e Oscar Schmidt foram
o ponto de equilíbrio da equipe brasileira. O engrama motor estava tão bem
estabelecido que as várias situações que surgiram ao longo da partida não
ofereciam surpresas para os atletas. Contudo, este registro neuromotor pode
ficar abalado se a cada vez que se treinar ou jogar for utilizada uma bola com
dimensão e peso variados. Assim, é possível que o arremessador aplique força
demais quando tentar um arremesso e a bola acerte sempre o fundo do aro, mas
não a cesta perfeita, ou aplique força de menos e a bola nem alcance o aro.
Por fim, o
material de confecção da bola pode apresentar variações no coeficiente de
restituição, o que diretamente altera o controle da bola durante o drible e as
fintas. Sucintamente, este coeficiente representa a modulação da velocidade do
objeto (no caso, a bola) antes e depois de uma colisão com outro objeto (piso,
por exemplo). Isso, claro, sem levar em consideração a calibragem da bola, mas
que nada tem a ver com o fabricante.
Deste modo,
penso que a preocupação do diretor do E.C. Pinheiros é pertinente. E merece
atenção das autoridades ligadas ao comando administrativo do basquetebol.
Concordo com a parte técnica a respeito das mudanças que acontecem nas situações de jogo devido as diferenças entre as dimensões da bola de uma marca para outra em cada competição. O grande problema é que hoje as confederações e federações possuem um patrocinador para materiais, inclusive as bolas, então todas as competições organizadas por aquela confederação ou federação tem que utilizar dos materiais do seu patrocinador. A gente ver muito isso no futebol também. Para se ter uma idéia no campeonato Alemão de futebol, se eu não me engano, é ainda pior, pois as bolas das partidas é de responsabilidade da equipe mandante, ou seja, eu posso jogar com uma bola nike hoje e na próxima partida jogar com uma Adidas e numa outra com uma outra marca totalmente diferente e para piorar as equipes treinam com as bolas do seu patrocinador.
ResponderExcluirEu acho que uma possível solução para isso é a FIBA padronizar as dimensões de peso e diâmetro e até mesmo os coeficientes de restituição dos materiais utilizados na fabricação da bola. Não basta apenas colocar um intervalo com quase 100g de diferença entre os valores máximo e mínimo para o peso ou de quase 50mm no diâmetro. Esse intervalo poderia ser bem menor ou nem existir e sim colocar um valor fixo, por exemplo 600g e 750mm.
Penso que fazendo isso iria acabar com as diferenças de uma competição para outra com relação a bola.
Muito bom! Muito bom mesmo! E só quem já jogou um dia com bolas diferentes sabe a grande diferença entre elas. A penalty perto da Molten ou da Spalding parece um balão de tão grande....
ResponderExcluirMarcos, eu de novo por aqui! já que fui convidado, opino! hehehe...
ResponderExcluirConcordo sim, é uma pequena diferença, mas são os detalhes que fazem as grandes diferenças, não é mesmo? Não precisa ser atleta pra sentir corporalmente o quanto tudo muda. Quando ia para escolinha de vôlei e futsal, havia muita diferença entre uma bola penalty para uma keep (longínquos tempos já...), no futsal, a mesma coisa (na época, entre uma penalty e uma dalponte...). Para o cidadão "comum", é como fazer a marcha de um carro... vc é acostumado com um renault e aí quando pega um chevrolet, é outro "comando", e é tão pouca coisa mas que faz sim toda diferença, num congestionamento, numa ladeira (acima) etc. Mas como o colega Eduardo Jr escreveu, tudo isso, obviamente, está atrelado ao mercado esportivo, e dessa lógica do esporte de rendimento, não vejo retorno, a não ser uma maior padronização, como vcs já sugeriram tanto na postagem como no comentário aqui. Seguimios!
muito boas as observações,Mestre Marcos. faz sim muita diferença essa mudança de marca das bolas utilizadas nos campeonatos, Assim como muitos jogadores já passei por esta situação algumas vezes, houve partidas em que me adaptei rápido e pouco interferiu no jogo, mas houve outras que não ocorreu o mesmo o que me atrapalhou um pouco durante a partida.Bem que no Brasil poderia adotar uma só marca. Mas como as instituições e os torneios dependem muito de patrocínio, o material esportivo depende destes.
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