Há poucas
semanas atrás, li alguns comentários em blogs e redes sociais, criticando a
contratação de técnicos estrangeiros para dirigir clubes brasileiros, e
declarando que torceria contra estes times. A justificativa é a aparente desvalorização
dos treinadores brasileiros em relação aos de outros países. Precisamos buscar
um meio termo entre os sentimentos de xenofobia e colonização. É chato saber
que um conhecido perdeu o emprego para um estrangeiro. Mas será que ficaríamos
aliviados se ele tivesse perdido o cargo para outro brasileiro? Qual o mal que
nos faz ter treinadores estrangeiros em nossos clubes? Será que não há nada a aprender
com estes profissionais?
O basquetebol
brasileiro passou três ciclos olímpicos (2000, 2004 e 2008) assistindo os Jogos
pela TV. E quando voltamos em 2012, foi sob o comando de um argentino (Rubén
Magnano), que por sinal, substituiu um espanhol (Moncho Monsalve). Ao longo dos
anos recentes, diversos atletas de clubes brasileiros se acostumaram a ouvir
instruções em outra língua que não a portuguesa. Atualmente duas equipes do NBB
possuem técnicos espanhóis. E já tivemos argentinos, uruguaios e porto-riquenhos
na função. Nos faltam cursos de formação ou de aprimoramento para técnicos no Brasil.
A Escola Nacional de Treinadores de Basquetebol foi um bom projeto, mas parece
ter sido esquecido e perdido seu rumo. Clínicas e oficinas ministradas por
treinadores brasileiros em geral são direcionadas à iniciação esportiva (mesmo
quando quem as ministra não trabalha na iniciação, e sim no alto nível). Nossos
treinadores não têm o hábito (infelizmente) de escrever livros. Ou seja, de que
maneira será viável o aprendizado e a formação de novos treinadores, e a atualização
daqueles que já estão plenamente engajados no ofício?
Alguns de
nossos profissionais buscam uma formação continuada no além-mar, visitando centros
de treinamento e fazendo cursos de técnico na Europa e EUA. Não seria mais
barato e acessível aproveitar a longa estadia de um treinador estrangeiro para
observar atentamente sua maneira de trabalhar? Penso que esta é uma
oportunidade interessante para nossos treinadores (iniciantes ou experientes). A
direção da equipe não se limita a definir o time titular, os tipos de defesa e
as jogadas ensaiadas. Há muito mais por trás disso. Estilo de liderança, opções
estratégicas, determinação de posturas, atitudes e normas de deslocamentos
tanto na defesa como no ataque, são informações vitais para compor um sistema
tático. Quem os acompanhar mais de perto, poderá aprender outros exercícios e
métodos de treinamento.
Será que em nosso
almoxarifado de informações não há espaço para novidades? Será que estas nem
mesmo existem? Temos treinadores de alto
gabarito, vários deles eventualmente fora das vitrines. Por isso, não acho que
devemos substituir todos. Mas também não vejo com maus olhos que de tempos em
tempos se quebre a homeostase e se veja as coisas com outros olhos, sotaques e
línguas.
Logo no primeiro parágrafo você tocou num ponto nevrálgico que afeta não só o basquete como inúmeras outras atividades esportivas ou não. O Brasil precisa, de fato, encontrar um meio termo entre sentimentos xenofóbicos (que não conduzem a nada) e o eterno sentimento de inferioridade do colonizado. É até paradoxal: rejeitar o estrangeiro e, ao mesmo tempo, copiar estrangeirismos desnecessários por pura auto estima baixa.
ResponderExcluirOlá Tia Maria Graça
ExcluirÉ sempre uma alegria receber suas visitas aqui no É Cesta!
Penso que devemos associar a isso um ditado que um amigo meu vivia repetindo: "Ouvir o galo cantar, mas sem saber onde". Copiar as modas, jeitos e estilos sem conhecer exatamente seus bastidores, é uma estratégia também bastante equivocada. Ao invés de comparar ou copiar, aprender!
Até a próxima!
Cara, tenho um exemplo em menor escala que mostra as vantagens de um estrangeiro atuando como técnico no basquete nacional.
ResponderExcluirO Brasil é um país tão grande e há tanta diferença no nível do basquete entre suas regiões, que um profissional do sudeste pode ser comparado a um estrangeiro num país.
Aqui em Sergipe, um carioca gerou uma evolução imensa no basquete, inspirou atletas e técnicos, e só não produziu mais porque os comandantes do nosso esporte no estado não souberam ou não quiseram tirar proveito da experiência "estrangeira" (quase "extraterrestre" dada o atraso do esporte sergipano comparado ao carioca e a careca do indivíduo a quem me refiro).
Sendo assim, concluo dizendo que já vi funcionar e, que será mais eficiente a vinda dum estrangeiro a nosso país quando os comandantes do esporte souberem explorar isso.
Abraços, Kiko.
Paulistinha
ExcluirObrigado por mais uma visita ao É Cesta!
Quando eu era técnico no RJ, em meados dos anos 1990, eu costumava assistir os jogos que o Flamengo disputava pela Liga Nacional no ginásio do Grajaú Country Club. Em todas as oportunidades eu ficava sentado na arquibancada logo atrás do banco do time adversário. A razão era poder ver como aqueles treinadores com quem eu não tinha um contato direto trabalhavam. Foi um aprendizado grande, pois vi atitudes que gostei muito e mais tarde procurei incorporar adaptando à minha realidade, e outras que não me agradaram nem um pouco e que me esforcei bastante para nunca repetir!
Existem muitas maneiras de se aprender e atualizar. Pelo menos na minha opinião.
Até a próxima!
Marcos, interessante tua reflexão aqui. Não falo especificamente do contexto do basquete, mas do esporte em geral, no âmbito brasileiro. Vejo com bons olhos essa experiência de treinadores de outros países aqui. O contrário também ocorre: no futebol, por exemplo, no Japão, na Arábia Saudita, Kwait etc, é uma chuva de treinadores brasileiros trabalhando lá. O técnico da seleção turca de vôlei é um brasileiro, renomadíssimo por sinal. Luxemburgo e Felipão trabalharam na Espanha e em Portugal, na Inglaterra. Parreira, Joel Santana, na África do Sul. Será que não podemos "trocar" experiências nesse sentido? a ginástica brasileira evoluiu muito com o técnico europeu (esqueci seu nome, desculpem...), e temos N exemplos disso, para o nosso bem, para o bem dos países que acolhem nossos técnicos brasileiros. No fundo, e vc inserido no universo esportivo como técnico sabe disso melhor que eu, o que falta, no Brasil, é cultura esportiva que pense para além de resultados rápidos e performances vitoriosas. Só vemos preocupação quando surgem as Olimpíadas, e aí sentimos na pele o discurso ufanista e delinquente dos políticos e da mídia. Parabéns pela postagem!
ResponderExcluirCristiano
ExcluirObrigado por mais um visita ao É Cesta! Você já é considerado membro da casa! Realmente a troca de experiências deveria ser a principal estratégia da passagem desses técnicos por aqui. Pena que muita gente não aproveita.
Até a próxima!
Olá amigos do É CESTA
ResponderExcluirSou Fábio Bandeira, editor do Portal Esporte Nordeste - www.esportenordeste.com.br . Hoje, somos um dos portais esportivos que mais crescem na região. Para se ter uma ideia, com um pouco mais de um ano no ar, já foram mais de 6000 noticias publicadas sobre tudo de esporte praticado no Nordeste.
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