quarta-feira, 20 de junho de 2012

Basquete Brasileiro: crise ou crítica?


Hoje terminou o Campeonato Fiba Américas U18 masculino. A competição, realizada em solo brasileiro, na cidade de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, reuniu a nata do basquetebol das Américas que certamente estarão na mídia nos próximos anos, quem sabe até, de volta a nosso país, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016. Além do sempre favorito time dos EUA, os olhos dos espectadores e da mídia focaram o elenco argentino, países com programas de desenvolvimento do basquetebol muito mais avançado do que o Brasil.

Tudo isso escrito acima é verdade. A preocupação com a participação brasileira é uma constante entre os cronistas e blogueiros tupiniquins. Mais uma vez, muita desconfiança, e uma torcida meio discreta, quase precisando que as coisas dêem errado para terem o que criticar impiedosamente sobre nosso esporte. Espero que este texto até aqui não os tenha levado a uma interpretação equivocada a meu respeito, fazendo-os pensar que eu acho que está tudo bem com o basquete nacional, que nossos times são os melhores, que nossa organização e administração esportiva é exemplar. Não vamos nos iludir, nem eu e nem vocês. Mas convenhamos, parte da crise do basquete brasileiro é proveniente de um exagero, transformado em uma espécie de histeria coletiva dos críticos.

A primeira coisa é a matemática imprecisa. É muito cruel (já disse isso aqui antes...) esse discurso sofista de que o Brasil está há 16 anos sem participar dos Jogos Olímpicos, uma competição que só ocorre de 4 em 4 anos. Se formos levar isso ao pé da letra, a atual campeã Espanha já se encontra afastada das quadras olímpicas oficialmente há 4 anos! Nem os EUA, atuais campeões mundiais escaparam deste mesmo período de ostracismo. Deixemos então de mencionar 16 anos, e sim, comentar (e lamentar) que ficamos três edições olímpicas de fora.

A outra coisa é o tratamento diferenciado que a crítica dá aos fatos ocorridos com nossos times em relação aos demais. Por exemplo, Ruben Magnano não gosta de câmeras e microfones em seus pedidos de tempo, e acham isso um absurdo. Na NBA mostram única e simplesmente os discursos motivacionais, mas nunca a parte tática. Mas ninguém reclama. Disseram que a final do NBB foi um jogo de baixíssimo nível técnico que demonstrou a fragilidade do basquete nacional. Será que estes não assistiram a final da Euroliga? O jogo só ficou bom de verdade quando faltavam cerca de 5 min para o fim. Até lá, foi uma tremenda pelada, em especial o primeiro período. Será que isso demonstra a fragilidade do basquetebol russo e também do grego?

 Reclamam que o basquete brasileiro desde o final os anos 1980 passou a se basear nos arremessos de três pontos, sem preocupação com variações táticas ofensivas. Não sei o que vocês vêm, mas será que não é exatamente isso que acontece nas arenas do Miami Heat e do Oklahoma City Thunder nas finais da NBA? No final do jogo de ontem (jogo 4), o ex-técnico e atual comentarista dos canais ESPN Zé Boquinha foi muito feliz em dizer que Russel Westbrook é um armador de pelada. A quantidade de erros básicos cometidos por ambas as equipes, comandadas por dois técnicos que nunca receberam o reconhecimento por seus trabalhos, e a total falta de estrutura tática ofensiva (principal característica tanto do time do leste como do oeste), nunca receberam as críticas dos amantes do esporte. Os arremessos precipitados de longa distância ao chegar num contrataque sem rebote, ou logo após a recuperação de um rebote ofensivo foram presenças marcantes no repertório dos times.

Quanto ao nosso estilo de jogo baseado exacerbadamente nos arremessos de longa distância, vocês ficariam chocados em saber que a média de arremessos de três do NBB, da Euroliga, da Liga Endesa (ACB Espanhola) e da Lega Nacional (Liga Italiana) são rigorosamente iguais? Em todos os campeonatos, as equipes tentam sempre cerca de 20 arremessos de três pontos por partida (em breve nossa equipe vai comentar mais sobre isso). Será então que nosso estilo de jogo é ainda tão diferente dos europeus?

Quanto ao processo de renovação, penso que estamos no início de um trabalho que só vai colher frutos bem mais tarde, provavelmente quando outro grupo estiver à frente da administração da modalidade. Estamos ainda preparando o terreno e começando a plantar as sementes. Devemos ter mais parcimônia e melhores critérios para poder avaliar e criticar o estado atual do basquete brasileiro, mas sempre numa perspectiva de crescimento em curso.

Pra finalizar, vejam só estes dados: a Argentina U18 perdeu duas vezes para o Canadá e perdeu de lavada para os EUA nas semifinais. Acabou o torneio em quarto lugar. Imaginem se fosse o Brasil...o que estariam comentando por aí?

PS: Após um terceiro quarto muito ruim, o Brasil perdeu a final do U18 para os EUA. Placar final: EUA 81 x 56 Brasil.

2 comentários:

  1. Excelente post Marcos. Muitas vezes as críticas são exageradas. Afinal criticar é muito mais fácil do que pesquisar e apresentar soluções para os problemas. Será que um comentarista que falasse que as coisas no basquetebol brasileiro estão caminhando num rumo certo iria aparecer da mesma forma que aquele comentarista que só apresenta as falhas, que diz que ta tudo errado? No Brasil se vende mais quando a notícia é ruim.
    Completando aquela informação sobre os arremessos de 2 e 3 pontos. os jogos do NBB teve em média mais pontos que a Euroliga e do que Liga Espanhola. Mas como você mesmo disse isso é um assunto para ser discutido futuramente.

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  2. Perfeito! Vamos para de apenas criticar e reconhecer que depois de muito tempo o basquete brasileiro vem crescendo. Credito isso a duas decisões acertadas: NBB (os clubes tomaram a responsabilidade da competição que passou a ser mais organizada) e Rubem Magnano (gênio! A pessoa certa para elevar o nível do basquetebol brasileiro, graças a Deus estará conosco até 2016)
    No feminino, ainda estamos as voltas com trapalhadas cartolísticas....A LBF está engatinhando e ainda não tem a força do NBB, mas pode dar certo ainda....

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