Hoje terminou o
Campeonato Fiba Américas U18 masculino. A competição, realizada em solo
brasileiro, na cidade de São Sebastião do Paraíso, Minas Gerais, reuniu a nata
do basquetebol das Américas que certamente estarão na mídia nos próximos anos,
quem sabe até, de volta a nosso país, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro 2016.
Além do sempre favorito time dos EUA, os olhos dos espectadores e da mídia focaram
o elenco argentino, países com programas de desenvolvimento do basquetebol
muito mais avançado do que o Brasil.
Tudo isso
escrito acima é verdade. A preocupação com a participação brasileira é uma
constante entre os cronistas e blogueiros tupiniquins. Mais uma vez, muita
desconfiança, e uma torcida meio discreta, quase precisando que as coisas dêem errado
para terem o que criticar impiedosamente sobre nosso esporte. Espero que este
texto até aqui não os tenha levado a uma interpretação equivocada a meu
respeito, fazendo-os pensar que eu acho que está tudo bem com o basquete
nacional, que nossos times são os melhores, que nossa organização e
administração esportiva é exemplar. Não vamos nos iludir, nem eu e nem vocês. Mas
convenhamos, parte da crise do basquete brasileiro é proveniente de um exagero,
transformado em uma espécie de histeria coletiva dos críticos.
A primeira
coisa é a matemática imprecisa. É muito cruel (já disse isso aqui antes...)
esse discurso sofista de que o Brasil está há 16 anos sem participar dos Jogos
Olímpicos, uma competição que só ocorre de 4 em 4 anos. Se formos levar isso ao
pé da letra, a atual campeã Espanha já se encontra afastada das quadras olímpicas
oficialmente há 4 anos! Nem os EUA, atuais campeões mundiais escaparam deste
mesmo período de ostracismo. Deixemos então de mencionar 16 anos, e sim,
comentar (e lamentar) que ficamos três edições olímpicas de fora.
A outra coisa
é o tratamento diferenciado que a crítica dá aos fatos ocorridos com nossos
times em relação aos demais. Por exemplo, Ruben Magnano não gosta de câmeras e
microfones em seus pedidos de tempo, e acham isso um absurdo. Na NBA mostram
única e simplesmente os discursos motivacionais, mas nunca a parte tática. Mas
ninguém reclama. Disseram que a final do NBB foi um jogo de baixíssimo nível
técnico que demonstrou a fragilidade do basquete nacional. Será que estes não
assistiram a final da Euroliga? O jogo só ficou bom de verdade quando faltavam
cerca de 5 min para o fim. Até lá, foi uma tremenda pelada, em especial o
primeiro período. Será que isso demonstra a fragilidade do basquetebol russo e
também do grego?
Reclamam que o basquete brasileiro desde o
final os anos 1980 passou a se basear nos arremessos de três pontos, sem
preocupação com variações táticas ofensivas. Não sei o que vocês vêm, mas será
que não é exatamente isso que acontece nas arenas do Miami Heat e do Oklahoma
City Thunder nas finais da NBA? No final do jogo de ontem (jogo 4), o ex-técnico
e atual comentarista dos canais ESPN Zé Boquinha foi muito feliz em dizer que
Russel Westbrook é um armador de pelada. A quantidade de erros básicos cometidos
por ambas as equipes, comandadas por dois técnicos que nunca receberam o
reconhecimento por seus trabalhos, e a total falta de estrutura tática ofensiva
(principal característica tanto do time do leste como do oeste), nunca
receberam as críticas dos amantes do esporte. Os arremessos precipitados de
longa distância ao chegar num contrataque sem rebote, ou logo após a
recuperação de um rebote ofensivo foram presenças marcantes no repertório dos
times.
Quanto ao
nosso estilo de jogo baseado exacerbadamente nos arremessos de longa distância,
vocês ficariam chocados em saber que a média de arremessos de três do NBB, da
Euroliga, da Liga Endesa (ACB Espanhola) e da Lega Nacional (Liga Italiana) são
rigorosamente iguais? Em todos os campeonatos, as equipes tentam sempre cerca
de 20 arremessos de três pontos por partida (em breve nossa equipe vai comentar
mais sobre isso). Será então que nosso estilo de jogo é ainda tão diferente dos
europeus?
Quanto ao
processo de renovação, penso que estamos no início de um trabalho que só vai
colher frutos bem mais tarde, provavelmente quando outro grupo estiver à frente
da administração da modalidade. Estamos ainda preparando o terreno e começando
a plantar as sementes. Devemos ter mais parcimônia e melhores critérios para
poder avaliar e criticar o estado atual do basquete brasileiro, mas sempre numa
perspectiva de crescimento em curso.
Pra finalizar,
vejam só estes dados: a Argentina U18 perdeu duas vezes para o Canadá e perdeu
de lavada para os EUA nas semifinais. Acabou o torneio em quarto lugar. Imaginem
se fosse o Brasil...o que estariam comentando por aí?
PS: Após um
terceiro quarto muito ruim, o Brasil perdeu a final do U18 para os EUA. Placar
final: EUA 81 x 56 Brasil.
Excelente post Marcos. Muitas vezes as críticas são exageradas. Afinal criticar é muito mais fácil do que pesquisar e apresentar soluções para os problemas. Será que um comentarista que falasse que as coisas no basquetebol brasileiro estão caminhando num rumo certo iria aparecer da mesma forma que aquele comentarista que só apresenta as falhas, que diz que ta tudo errado? No Brasil se vende mais quando a notícia é ruim.
ResponderExcluirCompletando aquela informação sobre os arremessos de 2 e 3 pontos. os jogos do NBB teve em média mais pontos que a Euroliga e do que Liga Espanhola. Mas como você mesmo disse isso é um assunto para ser discutido futuramente.
Perfeito! Vamos para de apenas criticar e reconhecer que depois de muito tempo o basquete brasileiro vem crescendo. Credito isso a duas decisões acertadas: NBB (os clubes tomaram a responsabilidade da competição que passou a ser mais organizada) e Rubem Magnano (gênio! A pessoa certa para elevar o nível do basquetebol brasileiro, graças a Deus estará conosco até 2016)
ResponderExcluirNo feminino, ainda estamos as voltas com trapalhadas cartolísticas....A LBF está engatinhando e ainda não tem a força do NBB, mas pode dar certo ainda....